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Memória

Seminário faz retrospectiva sobre Antropologia da Saúde

 A professora da Universidade de Laval (Quebec, Canadá) Francine Saillant conduziu, ao lado da professora Jaqueline Ferreira, do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (Iesc-UFRJ), o seminário “Antropologia da Saúde: perspectivas internacionais e nacionais” como um verdadeiro passeio na história e evolução da, relativamente, recente área de conhecimento, que procura estudar a saúde considerando o ser humano e a maneira como ele lida consigo e com o mundo.

O evento ocorreu na última quarta-feira (24/11), no auditório do Iesc, que ficou repleto de professores e estudantes ávidos por ouvir a canadense, uma referência mundial no assunto.

Era a primeira vez que Saillant participava de um evento na UFRJ, para apresentar as experiências de pesquisas e sistematização sobre a Antropologia da Saúde. Presidente da Associação Canadense dos Antropólogos entre 2007 e 2009, Francine Saillant é professora titular do departamento de Antropologia da Universidade de Laval e diretora de um centro de pesquisas dedicado aos estudos culturais no Canadá, o Celat. Ela foi diretora da revista Antopologie et Societé, durante os últimos 10 anos e já publicou diversos artigos e livros sobre o tema Antropologia da Saúde. Um deles, por exemplo, é sobre o Estado da Arte da Antropologia Médica, que terá versão em português no ano que vem, pela Editora Fiocruz, traduzida pela professora Jaqueline Ferreira, do Iesc.

Durante quase duas horas, Francine Saillant e Jaqueline Ferreira se alternaram na apresentação dos principais momentos na história da Antropologia Cultural, a primeira com uma visão global do tema, enquanto a segunda dava um contexto brasileiro para o campo. Como desde 1998, Saillant realiza pesquisas no Brasil sobre saúde, direitos humanos e questões raciais e humanitárias, o que a deixou com um português fluente e premiou o público que pode apreender com objetividade as explicações.

Francine relatou que, enquanto nos EUA, Reino Unido e França, a Antropologia Social já gozava de prestígio na década de 1970, no Canadá e no Brasil começavam a surgir departamentos para a área e a se multiplicar estudos de mestrado e doutorado. Ao analisar a relação do comportamento humano com as doenças, os estudiosos sobre o tema saúde se valeram da interdisciplinaridade entre as teorias produzidas nas universidades, as pesquisas de campo, visitando famílias em domicílios, considerando as experiências da convivência hospitalar. De acordo com professora, a Antropologia da Saúde foi construída por elementos que problematizam questões como as da soberania do corpo, das culturas e profissões ou a implantação das tecnologias em todas as esferas da vida.

A médica e antropóloga Jaqueline Ferreira, que fez o doutorado em Antropologia Social na École de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, lembrou que nos anos 1980 a Antropologia da Saúde se consolida como campo no Brasil, sob influência de autores franceses. Na década seguinte, em 1993, aconteceu o “I Encontro Nacional de Antropologia Médica”. Hoje, segundo ela, o desafio é aprofundar o papel da construção da Antropologia na sua incursão no setor de saúde e principalmente introduzir a lógica das populações como elemento fundamental no planejamento, atenção médica e programas de promoção e prevenção.

Ao final do seminário, além de debater com a plateia diversos tópicos sobre o tema, as duas anunciaram que irão sistematizar o seminário e produzir um artigo sobre o evento.