Na última terça-feira (28/09), o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ promoveu, em parceria com Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (EdUerj), o lançamento do livro Mímesis e a Reflexão Contemporânea. O evento contou com a presença do professor Luiz Costa Lima, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), organizador da publicação.
Após a confraternização, houve um debate com Costa Lima, Ítalo Moriconi, diretor da EdUerj, Aline Magalhães, doutoranda da PUC-RJ, e Thiago Castañon, mestrando da UFRJ. Os convidados apresentaram o livro, uma reunião de ensaios que pensam a contemporaneidade a partir do conceito de mímesis, e propuseram reflexões acerca do tema.
A preocupação com a mímesis acompanha a própria história do pensamento e da estética ocidentais. O livro mostra a evolução do entendimento do conceito ao longo do tempo, da Antiguidade Clássica de Aristóteles e Platão, passando pelo italiano imitatio no Renascimento, até chegar às reflexões de Kant, Hegel e Schelling, ao pensamento marxista e à filosofia de Auerbach.
Segundo Costa Lima, “o problema básico na ideia de mímesis é a ideia de representação”. Na concepção platônica, a mímesis aparece unicamente como imitação do mundo das ideias e, portanto, tentativas de representação da natureza, como a pintura, estavam distanciadas da essência do mundo. O autor disse que “a crítica mimética se mostra inadequada na modernidade, onde o pensamento ocidental dominante é a representação como uma reduplicação subjetiva de algo que se apresenta, e não imitação objetiva”.
Os convidados abordaram a questão da mímesis como conceito central para a compreensão do significado de arte. A faculdade de imitar, presente ao conceito de mímesis, diz respeito à representação da natureza, constituindo o fundamento de toda a arte na filosofia aristotélica. No entanto, o conceito de mímesis propõe um juízo de valor estético, e sua centralidade na apreciação da obra significa o exercício da normatividade da arte. Tal normatividade hoje esbarra com a proposta de relativização ou abandono de critérios para a apreciação do poético, atitudes mais ajustadas ao surgimento de artes não representacionais e abstratas.
A semiótica coloca a noção de mímesis como equivocada, pois, dada sua configuração relacional, ao signo pouco importa se o objeto que o determina tenha um referente existente na natureza ou não. Essa questão é um dos muitos empecilhos encontrados na reflesão sobre a mímesis, e Costa Lima disse não ter a chave para escapar de todos eles. “Trouxe aqui duas pessoas da geração mais jovem porque tenho a esperança de que, deixando a questão nesse ponto, ela venha encontrar continuadores. Espero deles e da nova geração que o tema da mímesis não se esgote”, conclui.