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Autoria compartilhada é debatida por cineastas no Fórum

 Na última sexta-feira (10/09), a II Semana dos Realizadores levou ao ciclo de debates, promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ, o tema “O Autor Fragmentado: Imagens partilhadas, autorias compartilhadas”. Mediado pelo curador Eduardo Valente, o debate contou com a participação dos realizadores Felipe Bragança, Marina Meliande, Guto Parente e Marcelo Pedroso. Na mostra de filmes, os quatro convidados exibiram trabalhos que realizaram em parceria com outros cineastas.

O encontro questionou a noção do diretor como autor único da obra cinematográfica, interpretado da mesma forma que o escritor na Literatura. Os palestrantes debateram o glamour de ser um cineasta, envolvido pela idéia de autoria, que começa a ser questionado a partir da realização de filmes que trabalham com métodos de produção baseados em parcerias. 
 
Os convidados, que já possuem experiências de trabalho em grupos coletivos de pensamento, representam três situações distintas da realização em parceria. O longa-metragem Pacific, apesar de ter Marcelo Pedroso como autor único, foi realizado através da montagem de imagens capturadas por viajantes, para uso caseiro, em um cruzeiro. O autor reconstrói a viagem a partir de diferentes pontos de vista, mas não sem causar incômodos a respeito de sua participação efetiva na realização fílmica.
   
Marina Meliande e Felipe Bragança, coordenadores do projeto  Desassossego, partiram do envio de uma carta a 14 outros cineastas, convidando-os à criação de uma narrativa baseada em um tema proposto, à qual eles responderam com o envio de seus materiais em vídeo.  De acordo com Bragança, “a idéia de coletividade presente no projeto permitiu a montagem de modo a fazer contar os fragmentos como originários do espírito dos fragmentos recebidos nas cartas”.

O longa Estrada para Ythaca foi realizado por Guto Parente e mais três diretores, que decidiram viajar e desenvolver um tema de comum interesse ao longo da viagem. Além de trabalharem com a divisão de todas as funções implicadas no processo, os diretores tinham poder de decisão igual na concepção e realização do filme.

Para Pedroso, a noção de autor que se apropria do filme é falha, pois implica a omissão de diálogos e colaborações indiretas. “A construção de um filme é mais que conceber um momento cristalizado em que o autor tem total domínio sobre uma história”, disse. Gosta de pensar a autoria como um processo aberto para a interferência de diversos agentes, inclusive o interlocutor – que também é autor da história em um documentário – e o espectador que, quando recebe a obra, faz com que o autor perca o controle de sua criação e intenção.

Parente destaca a autoria compartilhada como um processo de aprendizagem, que implica o exercício de supressão do ego e da vaidade, uma vez que todas as decisões passam pela negociação. O cineasta acredita que “se despindo de obsessões pessoais, você vê coisas que não passariam por seu campo de interesse estético se estivesse sozinho, e constrói um trabalho que não existiria se não fosse coletivo”.

Em relação à subjetividade do autor presente na obra, os realizadores acreditam que o filme coletivo se libera do eu narcísico e mesmo assim permanece nele uma subjetividade coletiva. Bragança acredita que “se você pensa em anulação da sua subjetividade quando compartilhada com outras pessoas, ainda está pensando com a idéia de autoria, uma idéia industrial, onde é próprio das máquinas ‘ser capaz’ de algo”. Para ele, “é necessário trazer essa visão de volta para o âmbito humano, tirando a idéia de ‘capacidade’ do eu, onde a parceria não anula, mas sim expande a capacidade de se apaixonar pelo que se está fazendo”.