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“Direitos Humanos em Tela”

Dando continuidade ao projeto “Direitos Humanos em Tela”, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH) da UFRJ, promoveu, na última quarta-feira (22/09), a exibição do longa-metragem Topografia de um Desnudo (2010), de Teresa Aguiar.

O filme é a adaptação cinematográfica de texto teatral homônimo, baseado em fatos reais. A história relata o episódio ocorrido no Rio de Janeiro, durante o governo Carlos Lacerda (1961-1965), que, com o objetivo de “higienizar” a cidade, comandou o extermínio de mais de 15 moradores de rua, em operação que ficou conhecida como “mata-mendigo”. Ao mesmo tempo em que expõe e preserva a memória deste crime, o longa propõe reflexões acerca da grave situação dos moradores de rua nos dias atuais.

Após a exibição, foi realizado debate com a presença do jornalista Luciano Rocco, coordenador do Fórum Permanente de População de Rua do Rio de Janeiro e editor da Revista OCAS; do morador de rua Marco Aurélio; e da professora Mariléa Venâncio Porfírio, diretora do Nepp-DH. O debate manteve um tom de denúncia, visto que o tema da mendicância é tabu na sociedade brasileira, em sua maioria munida de preconceito e desinformação.

Os convidados abordaram a questão da precariedade dos abrigos, que carecem de estrutura, metodologia de inclusão e retratam uma situação heterogênea, onde deficientes físicos, doentes mentais e dependentes químicos convivem com os demais, sem dispor de atendimento especializado. Além disso, os moradores de rua sofrem com a violência e a repressão por parte dos policiais que, por vezes, praticam atos de violência, como os retratados na película.

Marco Aurélio mostrou-se preocupado com a saúde da população de rua, que adoece facilmente, além de sofrer com o preconceito, até mesmo por parte de profissionais de Saúde. “Muitas unidades de emergência se recusam a socorrer mendigos. Precisamos de unidades móveis destinadas ao socorro dos moradores de rua, para evitar que as pessoas continuem morrendo à luz do dia”, reivindicou.

Estiveram presentes ao debate, ainda, integrantes de um projeto de Saúde direcionado à população de rua, de iniciativa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. O projeto conta com postos de saúde instalados em determinados pontos da cidade e equipes completas, que dão assistência médica e odontológica a esta população, atuando principalmente na prevenção de doenças.

De acordo com os palestrantes, as políticas de assistência esbarram na negligência do poder público e da sociedade. Segundo Marco Aurélio, as dificuldades são muitas e ofuscam uma realidade ainda maior de desigualdade social e preconceito. “Atacar os efeitos é paliativo. Para conseguir resultados, devemos atacar as causas”, concluiu.