Cientistas dependem de aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para concluírem o estudo
A caixa de e-mail do pesquisador Luiz Fernando Mesquita anda abarrotada desde a veiculação na televisão do Zimduck, um biofármaco 100% natural, em desenvolvimento no Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN/UFRJ). As mais de 3 mil mensagens do Brasil e exterior que chegam para o médico inventor e dono da patente intelectual do produto querem saber mais sobre esta revolução no tratamento de infecções, na qual é restabelecida a imunidade original do organismo humano ao invés de se combater o agente infeccioso. A fórmula para combater qualquer infecção pode ser um trunfo contra a Aids.
Sem apoio financeiro de entidades de fomento à pesquisa, já são 15 anos de estudo com cerca de 150 participantes, entre pesquisadores de diferentes especialidades e outros de conhecimento popular, para desenvolver um mecanismo de “reensinar o corpo a trabalhar para o próprio corpo. Trabalhamos permanentemente, sem descanso. Os microorganismos não tiram férias”, diz Luiz Fernando.
O Zimduck não é concebido para atacar um agente invasor. “Ele Funciona ‘acordando’ o organismo enfraquecido por inúmeros fatores como desnutrição gestacional, medicações incorretas ou, mesmo, fome. Desenvolvemos fora do corpo o que o próprio poderia fazer perante desequilíbrios naturais”, analisa o pesquisador.
Sabidamente, o leite materno é fonte de imunidade, pois transfere para o bebê nutrientes e anticorpos, doses de proteção contra doenças e infecções que os acompanham por toda a vida. Partindo desta premissa, os cientistas se inspiraram na amamentação para produzir o Zimduck. Ele é composto por uma combinação de leites de quatro mamíferos: cabra, ovelha, vaca e um outro mantido em sigilo, cada um possui certa carga de anticorpos. A produção do medicamento independe de qualquer adição química e ainda não foram constatadas contra-indicações.
Primeira fase de avaliação
As etapas de avaliação pré-clínicas confirmaram que o novo fármaco é seguro para ser testado em seres humanos. Em 2003, foi realizada a fase clínica I no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ). O Zimduck foi aplicado, através de injeção no músculo, uma vez por semana durante um mês em 30 voluntários saudáveis, que apresentavam apenas pequenos incômodos como gripes, alergias respiratórias e resfriados.
Os resultados foram surpreendentes. Efeitos, como a suavização de alergias, a menor ocorrência de gripe e até um caso de melhora da manifestação do herpes foram verificados. A análise feita em laboratório constatou grande quantidade de células natural killers ou exterminadoras naturais, que aumentam a imunidade. Elas protegem os seres humanos de infecções provocadas por vírus, como gripes, herpes e hepatite C.
Os pesquisadores imaginam que o biofármaco estimule as glândulas supra-renais a liberarem um hormônio chamado SDHEA, que possui aproximadamente 150 funções diferentes do corpo humano, entre as quais o aumento da quantidade de células natural killers no sangue.
Tratamento da Aids
Desta maneira, o novo fármaco auxiliaria no tratamento da Aids – complementando a ação dos medicamentos antirretrovirais – e o tornaria mais acessível. Atualmente, o Governo fornece coquetel de antirretrovirais a cerca 200 mil portadores, de um total estimado, no país, de 630 mil. O gasto chegou a um bilhão de reais em 2009, segundo o Ministério da Saúde. É nesse sentido que os pesquisadores do NPPN apontam como fundamental o desenvolvimento de um fármaco nacional, com grandes possibilidades de um custo mais baixo, diminuindo a importação de medicamentos.
Todavia, para se ter a confirmação do seu mecanismo de ação e eficácia no combate aos efeitos do vírus HIV é necessário o estudo dos experimentos da fase clínica II. “Em hipótese, o Zimduck será um seguro e competente adjuvante no tratamento da Aids. O tratamento também poderia ser barateado, pois teríamos menos infecções oportunistas e menos internações”, avalia Luiz Fernando.
Reprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
No entanto, após a conclusão da fase clínica I, o Zimduck não foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para a realização da fase clínica II, seu último estágio de avaliação. “Fomos reprovados pela Conep, mesmo tendo passado no primeiro ano. Não fomos credenciados a fazer o segundo ano, aonde teríamos a oportunidade de dar ao Zimduck o que ele precisa como fato científico”, avalia o doutor Mesquita.
O dono da patente do produto garante que a reprovação não teve motivação científica e não impede o andamento do protocolo clínico, porém não pode ser divulgada. “Não é nada científico. Não cabe recurso de nenhuma espécie. Temos que começar o processo todo do zero e aí se vão mais uns dez meses no mínimo. Nunca o Zimduck foi questionado quanto ao fato científico que apresenta. Que mais podemos fazer? Continuamos nossa trajetória em direção aos pacientes que precisam, não só do Zimduck, mas de uma nova maneira de pensar a saúde e sua propedêutica”, ou seja, o que devemos conhecer antes de iniciar uma investigação.
E complementa: “fomos aprovados pelo CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) da UFRJ em 2003 e chancelados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com o resultado de que o Zimduck era seguro para o uso em humanos. Desde lá já tentamos através das agências reguladoras tradicionais e fomos aprovados por três CEP’s de Pesquisa Clinica o que não gerou na Conep a esperada apreciação da história pré-clínica e clínica do Zimduck”.
Perspectivas
Atualmente, não estão sendo realizados testes com o Zimduck. “Não há estudos clínicos em andamento, portanto não há voluntários nem patologias em teste”, afirma Luiz Fernando. Apenas com a aprovação do CEP e da Conep, e a realização da fase clínica II, o medicamento poderá ser autorizado pela Anvisa, Ministério da Saúde e pela própria Conep para ser prescrito pelos médicos e disponibilizados pelo Sistema único de Saúde (SUS) e nas farmácias.
“Acredito que o conhecimento científico não cartesiano encontre o caminho do meio, como dizia Gautama. Que o produto natural Zimduck possa `provar` na fase clinica II sua qualidade como modulador natural da resposta de cada desequilíbrio imune-hormonal que cada patologia manifesta”, deseja o pesquisador. Que conclui: “em breve divulgaremos uma página no site do NPPN para divulgar mais informações sobre o Zimduck. O e-mail (zimduck@gmail.com) continua também livre para perguntas e respostas”.