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Memória

O teatro de Gertrude Stein em debate na ECO-UFRJ

A disciplina Comunicação e Artes II, ministrada pelo professor Denilson Lopes Silva, recebeu, na última segunda-feira (14/6), Inês Cardoso Moreira, professora do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e pesquisadora da obra de Gertrude Stein. O encontro aconteceu no Laboratório de TV e Vídeo da Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e buscou debater o teatro na obra da escritora estadunidense.

Inês Cardoso Moreira destacou as principais características de Gertrude Stein. “A primeira dificuldade ao ler suas peças é a ausência de início, meio e fim. Não há uma divisão das falas, nem personagens delineados, a estrutura dos atos, muitas vezes, não segue uma ordem e a pontuação quase não tem vírgulas ou pontos, o que causa um estranhamento inicial”, explicou. A docente acrescentou que “por outro lado, pode-se perceber vozes que não são explícitas, mas que estão na peça e dialogam entre si”.

A professora traçou um panorama da relação pessoal de Gertrude Stein com o teatro que, para a escritora, “era uma experiência de desconforto. O tempo da emoção dela, como espectadora, não coincidia com o tempo da emoção do que acontecia no palco. Foi esse problema do tempo que ela buscou resolver ao jogar com os elementos da dramaturgia”, disse.

Cardoso Moreira também problematizou a questão de “ver” e “ouvir” na obra da escritora. “Gertrude Stein buscou relacionar ‘ver’ e ‘ouvir’ com ‘emoção’ e ‘tempo’, fugindo da abordagem mais tradicional que relaciona ‘ver’ e ‘ouvir’ com ‘história’ e ‘ação’. A principal questão é pensar se a coisa ouvida substitui, ajuda ou interfere no que é visto, e vice-versa. É nesse ponto que ela desconstrói as noções de história e narrativa”, afirmou. A pesquisadora acrescentou ainda que o Cinema é uma arte que pensa essa questão, pois “no início do Cinema só havia o ‘ver’. Gertrude se questionava o quanto daquilo que era visto, era som. O som estava na coisa vista. Por isso, segundo ela, o Cinema repensou de uma maneira nova e singular as relações visão/som e emoção/tempo”.

A noção de “peça-paisagem”

A partir dessa reflexão envolvendo o tempo da emoção no teatro, Gertrude Stein elaborou sua noção de “peça-paisagem”. De acordo com Inês Cardoso Moreira, “em um livro, é possível se familiarizar com personagens e acontecimentos, mas no teatro isso não ocorre por causa do tempo. Gertrude defendia que é preciso pensar menos na questão narrativa, e mais na experiência de unidade. Ela não via sentido em contar mais uma história de um determinado acontecimento, mas sim falar do acontecimento buscando captar sua essência, como acontece nos retratos. A melhor forma de expressar isso é através de uma peça de teatro.”

A docente contou que quando Gertrude Stein escreveu o retrato de uma paisagem, o resultado se tornou uma peça. “Se uma peça é como uma paisagem, você pode se familiarizar com ela, mas ela não necessariamente se familiariza com você, assim como no teatro. As peças de Gertrude são peças-paisagens, pois uma paisagem existe sem contar história alguma, sem ter início, meio ou fim, mas apenas provida de elementos que se relacionam e compõem uma espécie de quadro. É como uma paisagem que o teatro de Gertrude Stein se manifesta. É nesse sentido que ela busca um não-movimento no teatro”, concluiu.