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Entre o jornalismo e a literatura

A jornalista, editora e professora da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, Cristiane Costa, contou sobre sua experiência na profissão e seu contato com a literatura para os alunos do Laboratório de  Literatura e Comunicação na última sexta-feira (21/5). Autora do livro “Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil”, Cristiane dedicou sua tese de doutorado a mesma questão que João do Rio levantou exatos 100 anos antes: fazer jornalismo ajuda ou atrapalha ser escritor?

A carreira jornalística de Cristiane Costa caminhou sempre muito próxima ao mundo da literatura. Ela editou o caderno Idéias e Livros do Jornal do Brasil, assim como o Portal Literal, página que reúne sites de diversos escritores. Além disso, foi editora de não ficção da Nova Fronteira, onde conheceu todo o processo de criação de um livro.

Habituada ao universo do jornalismo e da literatura, nada mais natural que o doutorado de Cristiane Costa se dedicasse a unir esses temas. Em sua pesquisa, a professora descobriu que 80% dos escritores brasileiros também trabalharam como jornalistas. “Graciliano Ramos virou alcoólatra trabalhando com jornalismo, Carlos Drummond de Andrade foi um chefe tirânico, Rubem Braga virou cronista porque mentia muito em suas reportagens… Guimarães Rosa é a única exceção que me lembro”, enumerou Cristiane.

Depois de entrevistar muitos escritores, a professora concluiu sua tese com as mesmas respostas que João do Rio havia conseguido em 1904. O jornalismo ajuda e atrapalha o escritor. “Por um lado, tem os que classificam a profissão como uma prostituição, uma forma de vender o que deveria ser arte”, explicou Cristiane, “por outro, o jornalismo acaba com a imagem do escritor morto de fome que não consegue pagar as contas.”

Com base em sua experiência no Jornal do Brasil, Cristiane Costa deu dicas para quem vai trabalhar em um suplemento literário. De acordo com a jornalista, os critérios para que um livro entre no caderno são o prestígio do autor, o tema e a indicação que alguém conhecido pode fornecer. “Todo o editor vai para a cama com culpa: será que coloquei o próximo Lima Barreto na pilha do lixo? Mas não tem jeito, recebemos muitos livros por dia, precisamos priorizar”, explicou.

“O grande problema de trabalhar com livros é que você lê tantos romances geniais que fica com medo de escrever o seu”, confessou Cristiane. Seu projeto de pós-doutorado, porém, pretende lutar contra esse bloqueio. A jornalista quer escrever uma história utilizando estruturas narrativas existentes em redes sociais.