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Evento debate desafios e perspectivas na vida do deficiente físico

 O evento “Tecnologia Assistida e Superação”, que aconteceu na última sexta-feira (30/04), discutiu as dificuldades enfrentadas pelos deficientes físicos no Brasil e as perspectivas para melhoria da qualidade de vida deste público. O debate contou com a presença do surfista André Souza, portador paraplegia, e da professora Ana Paula Cazeiro, doutoranda em Terapia Ocupacional pela Universidade de São Paulo (USP). O evento, realizado no Auditório Manuel Maurício de Albuquerque, foi organizado pela Fluxos, empresa júnior de Administração da UFRJ.

Andrezinho Carioca, como é mais conhecido, falou sobre sua vida após o acidente de moto que o deixou paraplégico e as dificuldades diárias que enfrenta até hoje. “Primeiro, eu fiquei muito preocupado com os meus pais. Depois, refleti e decidi que tinha duas opções: viver bem ou ficar dependente”, relatou. O surfista, que participou da última etapa do Circuito Mundial do Surf, contou com a ajuda do esporte para se recuperar. “Comecei com o remo, esporte de que gosto muito. Depois, fiquei sabendo do AdaptSurf e me interessei. Hoje não consigo pensar na minha vida fora do surfe”, afirmou, em referência ao projeto iniciado há três anos, com o objetivo de promover a inclusão de deficientes físicos no esporte.

A iniciativa, sem fins lucrativos, conta com a ajuda de voluntários para treinar os praticantes. “As praias não têm acesso para os deficientes. Com a ajuda de alguns equipamentos, nós conseguimos acessar a praia”, disse. O projeto, presente nas praias do Pepê, na Barra, e Posto 11, no Leblon, está em estágio embrionário, devido ao alto custo dos equipamentos. “A roda da cadeira especial para areia foi projetada pela Nasa (National Aeronautics and Space Administration). A tecnologia utilizada ainda não chegou ao Brasil, o que encarece a sua aquisição”, explicou.

Os diversos equipamentos necessários para que os deficientes físicos possam viver de maneira inclusiva foi o tema da palestra da professora Ana Paula Cazeiro. Segundo a docente, a falta de investimento e a mão-de-obra escassa são os fatores que justificam a falta de produção desses equipamentos no Brasil. “A grande maioria das ferramentas, que são absolutamente necessárias à vida dessas pessoas, é importada, o que limita a sua utilização, pois poucos podem pagar por ela”, afirmou.

A professora explicou que o desenvolvimento das tecnologias para os deficientes é ampla e vai desde a adaptação de um talher até uma cadeira de banho especial para deficientes motores. “O desenvolvimento dessas máquinas é um trabalho interdisciplinar, que envolve diversas áreas do conhecimento. Por isso é importante o trabalho dentro da universidade, pois é ali que se reúnem todos os saberes”, analisou.

Para Ana Paula, a informação também é essencial. “Muitos pacientes não sabem da existência dos recursos disponíveis. O alto custo, a falta de investimento por parte do governo e da própria indústria, a escassez de profissionais de Terapia Ocupacional são as maiores dificuldades para que esse mercado se dissemine”, resumiu. A docente analisou inclusive as vantagens mercadológicas para a maior atenção ao público.“Cerca de 10% da população é de deficientes físicos, de alguma maneira. Acho que o mercado ainda não percebeu o potencial desse nicho”, completou.

Para Ana Paula e André, as políticas públicas não deveriam ser de inclusão, mas de adequação. “Quando você constrói um banco, por exemplo, preparado para também receber os deficientes, todo mundo ganha. Colocar um elevador beneficia não apenas o cadeirante, mas também o idoso, uma pessoa com o pé quebrado, uma mãe com filho pequeno, um obeso etc”, citou. Viver de uma forma integrada, e não inclusíva, é o que André Souza gostaria. “A gente não quer exclusividade, não queremos um elevador só para a gente, uma entrada só para a gente. Queremos ter oportunidade de fazer parte da sociedade como qualquer um”, concluiu o surfista.