A mostra "Cena do Cinema" do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ exibiu, na última terça (13/4), "Um Romance de Geração", de David França Mendes. Após a sessão, o curador do evento, Denílson Lopes, mediou a mesa de debates, que contou com a presença da atriz Suzana Ribeiro e do próprio diretor. Baseado no livro homônimo de Sérgio Sant`anna, "Um Romance de Geração" é uma comédia sobre Carlos Santeiro, um escritor que, após publicar uma obra de grande sucesso, não consegue mais escrever. Esquecido e deprimido, ele se entrega à bebida e às corridas de cavalo.
A produção é um filme sobre o filme. Durante os 80 minutos de duração, diretor, autor e atores debatem o texto, o perfil de cada personagem e, principalmente, o que foi a geração das décadas de 1960 e 1970, sobre as quais se refere o título. No filme, Santeiro recebe a visita de uma jornalista pautada para escrever sobre sua vida. Ao ser perguntar sobre o que está escrevendo no momento, o escritor passa a mentir para esconder o fato de que sua inspiração chegou ao fim.
A proposta da mostra, segundo Lopes, é exibir filmes que transitem em outras linguagens, “diferentes do supervalorizado documentário, e da ficção, limitada às narrativas da telenovela". Para França Mendes, a película se difere das demais por flertar com técnicas de teatro. "Eu tentei expor os questionamentos que o próprio livro traz em relação à sua narrativa", disse. Dentre as técnicas utilizadas, mencionou o posicionamento da câmera, os muitos ensaios e o cenário fixo. "Nós priorizamos os atores à câmera. Muitas vezes ela se perdia na cena, porque não tínhamos marcação nem para os atores", revelou o diretor, completando ainda que a intenção era dar um dinamismo maior à ação.
A personagem da jornalista é interpretada por três atrizes. "A escolha foi muito enriquecedora", afirmou Suzana Ribeiro. "O texto era o mesmo para as três, mas foi interessante ver como cada uma montou o seu próprio personagem, apesar de fazerem a mesma pessoa. Uma foi adicionando, roubando e se alimentando da atuação da outra", relatou. Para Mendes, as atrizes tinham sua própria identidade, mas não eram totalmente opostas. "Podiam ser a mesma pessoa, mas em momentos, contextos e dias diferentes", analisou. Segundo o diretor, o ensaio principal aconteceu com Isaac Bernat, ator que interpreta Santeiro. "Ele conseguiu manter o mesmo personagem, mas reagindo de acordo com a atuação das atrizes. Cada uma jogava para um lado e ele acompanhava", disse.
Para Suzana Ribeiro e David França Mendes falta ao cinema brasileiro atual uma maior interação entre os atores, diretor e outros agentes de cinema, como o produtor. "O diretor sempre acaba ficando tão aficionado com a construção do cenário, tudo tem que ser tão crível e verdadeiro que acaba esquecendo de dirigir o ator. Mas no final é através do personagem que a trama vai se construir", analisa França Mendes. “Não adianta ter o melhor cenário se o ator não transmite a ideia", completa Suzana.
O objetivo de “Um Romance de Geração” é o debate, afirma Mendes. "A maioria dos filmes hoje é feito sobre o nada, para o nada. Eu respeito quem faz filme para ganhar dinheiro também, acho totalmente legítimo. Mas os filmes de hoje estão presos àquilo que o teatro se libertou: a obrigação com o crível". A simplicidade dos meios é o que faz desta obra, na opinião do diretor, um filme legítimo. "Ame-o ou odeie. O que mais importa é que não é um filme medíocre", finalizou.