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Funk: o grito das quebradas

Marcelo Yuka ministrou a aula inaugural do projeto “Universidade das quebradas”, organizado pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea (Pacc-UFRJ), vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura, na última quinta-feira (1/4). Com o Auditório Professor Manoel Maurício lotado, o músico falou sobre o tema “Estética e conhecimento nas quebradas”, defendendo o funk como importante movimento cultural das ruas e “incômodo necessário” para a sociedade. As coordenadoras Heloísa Buarque de Hollanda e Numa Ciro apresentaram o projeto.

Marcelo Yuka iniciou sua aula com uma homenagem às mulheres que, na sua visão, são sinônimo de poesia. “Cada vez mais me apaixono pela mulher”, afirmou. Frisando a força e a afetividade feminina, o músico lembrou que a imensa maioria de visitantes em cadeias são mulheres, “que nunca saem correndo em situações difíceis”.

Ao falar sobre o tema central de sua palestra, Yuka polemizou. “O que foi mais importante para o Brasil: o samba ou a semana de 22? Minha resposta é: o funk”, declarou. O músico afirmou que a estética da rua reflete a identidade cultural do país e, por isso, acredita que o funk representa uma mudança que deve ser considerada. “Alguns políticos, como o governador Sérgio Cabral, tiveram que rever seu atraso e se voltaram para esse movimento com intenções eleitoreiras”, disse Yuka.

O músico destacou o fato de que o funk ainda não foi cooptado pelas grandes corporações e, desse modo, vive com mais liberdade. “Funk não sai na MTV, não se submete às imposições da mídia”, afirmou Yuka. Já o hip hop não é tão bem visto pelo ativista, que atacou a sua perda de personalidade. “Eles colocam cordão e usam carros que não são deles”, explicou.

De acordo com Yuka, a arte não precisa ser impressa e uma de suas funções é falar “por esse caminho não quero”, mantendo sua autenticidade. “A beleza da arte da rua é que ela é irremediavelmente crítica e autocrítica, está sempre se revendo”, afirmou o músico, que destacou também a importância da poesia em todas as formas de expressão. Contudo, lamentou a arte de hoje, “estamos vivendo um momento em que uma bunda parece que é arte”.