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Fome em debate na UFRJ

 O Colóquio Educação, Alimentação e Cultura, produzido pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes-UFRJ) e pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC-UFRJ), teve início na manhã dessa terça-feira (27/04) com a explanação da professora Maria do Carmo Freitas, do Departamento de Ciência da Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que abriu oficialmente os trabalhos.

A nutricionista apresentou o tema: “Hábitos Alimentares nas camadas de baixa renda: 30 anos depois” e iniciou a palestra comentando a relação dos hábitos alimentares com valores culturais e com o cotidiano. Como exemplo, falou de lembranças ativadas com o ato de se alimentar e da variação da importância do momento da alimentação dependendo que cada região.

“Algumas culturas têm o hábito de comer rápido, porque acreditam ser o momento da alimentação apenas uma necessidade fisiológica, outras incentivam o momento social, a apreciação da comida como algo sagrado”, comentou a professora.

Posteriormente, relatou suas experiências durante a pesquisa sobre fome num bairro muito pobre de Salvador, o “Pela-porco”, e falou das lendas criadas pela falta de comida no local. “Os moradores falavam da fome como um espírito maligno, um monstro, que entra nas casas e suga as pessoas por dentro. Isso causava algumas superstições para evitar que a ‘bicha’ (outro nome para a fome) chegasse. Uma delas era não relatar em pesquisas de censo, por exemplo, que passavam fome, pois acreditavam que, ao falarem, a fome voltaria para matá-los”, aponta Maria do Carmo.

Tudo isso retrata angústia, revolta e vergonha dos moradores diante da real fome, da fome crônica. Sobre disso, a pesquisadora encerrou a fala dizendo que “a fome é um trauma social, uma cicatriz na sociedade”.

O Colóquio, que vai até o dia 30 de abril, contou na abertura com as professoras Elizabeth Accioly, diretora do INJC; Miriam Struchiner, diretora do Nutes; Alexandre Brasil, coordenador do Nutes, e Luciana Castro, diretora do Instituto de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que ressaltou os benefícios de uma integração entre instituições de ensino, dando exemplo do auxílio recebido pelo Restaurante Universitário (RU) da UFRJ nos projetos para um RU também na Uerj.