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Memória

Seminário no Instituto de Economia compara as crises de 1929 e 2007

 Na abertura dos seminários de pesquisa do Instituto de Economia (IE) da UFRJ este ano, o professor Fernando Cardim comparou as duas últimas crises vivenciadas mundialmente, com base no trabalho de sua autoria “Is this it? Are we witnessing the Great Depression of the 2010s?” (“Então é isso? Estamos testemunhado a Grande Depressão dos anos 2010?”). De acordo com o especialista, não se esperava que a experiência de 1929, quando o modelo capitalista passou por seu momento de maior perigo, pudesse acontecer novamente.
 
Em palestra oferecida ontem, no IE, Cardim explicou, no entanto, que a crise atual “pode não ser o fim do mundo, mas também não é uma coisa à toa”. Tudo depende das políticas econômicas que estão sendo promovidas e seus resultados. A grande questão, em sua opinião, são os fortes estragos causados pelos impactos desse abalo e a extrema raridade do evento, ocorrido pela última vez há 80 anos. “Aparentemente, havia sido um pesadelo único, mas ficar falando ‘eu te disse’ para aqueles que não acreditaram que isso poderia se repetir não ajuda muito a resolver a situação”, declarou.
 
Para justificar o contexto econômico que deflagrou as duas grandes depressões, o especialista explicou ainda a deflação de débitos, que, a partir de 2007, desenvolveu um efeito de “bola de neve” no mercado imobiliário norte-americano. “Se eu estou no abismo, não preciso que ninguém me empurre para eu cair, basta um assopro”, exemplificou, em referência às frequentes vendas realizadas para pagar dívidas, o que desvalorizou o setor. A partir de então, o contágio entre os mercados espalhou a crise para o restante do sistema financeiro, o que teria comprometido também outros setores da economia.

“Desvalorizou tudo”, resumiu Cardim, “mas os efeitos disso só caracterizaram uma depressão quando a onda de desempregos afetou a economia real”. A diferença entre uma “simples recessão” e uma depressão econômica de fato, para ele, é a forma como se reage. “Nos ciclos de recessões, que são comuns, os agentes costumam sair deles espontaneamente. A depressão, como aconteceu em 1929, é quando a economia chega ao fundo do poço e não consegue sair de lá por si própria”, concluiu.