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Autoconhecimento e percepção do corpo nas escolas

O movimento pelo movimento, o gesto pelo gesto: essa é a realidade que muitas vezes vemos nas aulas de Educação Física nas escolas. Indo contra essa corrente, estão projetos pedagógicos que visam à utilização da disciplina como meio de aprendizagem de si. No Por Uma Boa Causa deste mês, abordamos diferentes práticas que cumprem tal papel e, nesta última, reportagem figura a dança.

A professora Maria Ignez Calfa, convidada pelo Olhar Vital, nos fala da relevância da dança como ferramenta pedagógica: “na dança, o corpo é o elemento principal, o material principal. Não existe um intermediário, como um caderno ou um lápis. Acho que nesse caminho ela pode ser um elemento muito rico e muito valoroso da formação humana”. Assim, a professora preza especialmente o autoconhecimento que a dança proporciona. “Antes de sermos um acúmulo de conteúdos, nós somos, e a dança busca quem você é”, diz.

Os maiores impedimentos para essa prática estão dentro das diretorias das escolas, que não têm interesse em oferecer a dança. O Laboratório de Arte e Educação, que funciona dentro do Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos e é coordenado por Ignez, possui inúmeros projetos de capacitação de profissionais que funcionam dentro de escolas do município. Neles, a professora pôde observar que, mesmo naquelas escolas interessadas em incluir a disciplina em seu currículo, os espaços não são adequados, com chão de cimento e sujeira.

Um espaço adequado é essencial para o trabalho de percepção que a dança propõe. É um trabalho de conexão, concentração, de consciência maior que precisa de certo aconchego e conforto. “O que a gente focaliza com muita clareza é a perspectiva de que a dança é um caminho que você tem pra chegar ao aluno”, explica a professora. Assim, uma barreira para atingir o aluno é a situação caótica das escolas, que não separa um tempo e um espaço para atividades fora do circuito português-matemática.

Ainda assim, a atividade não se limita somente à Educação Física. Dentro de sua atuação nos projetos, Ignez entrou em contato com professores de outras áreas, como língua portuguesa e história, que trabalham com o corpo. Essa característica interdisciplinar da dança traz benefícios para docentes e discentes ao valorizá-la como linguagem do homem. “No dia em que a educação perceber que o desenvolvimento da linguagem abre uma porta no processo de ensino e aprendizagem do aluno, talvez tenhamos uma outra escola, um outro aluno e até uma outra universidade”, conclui.