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Tendências de um ambiente em mutação

 O novo ponto de inflexão trazido pelo século XXI, daqui para frente, é o “humanware” (suporte humano). Essa é a opinião de Celso Campos, professor doutor em gestão de recursos humanos pela Unirio, que afirmou que, diferentemente da época dos ‘softwares’, no século passado, hoje em dia a tecnologia por si só não importa mais. “O que vale agora é o que se faz a serviço do outro, através dos recursos tecnológicos em um menor período de tempo”, constatou ele durante evento realizado no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Convidado pelo Sistema de Bibliotecas e Informação (Sibi) da UFRJ para apresentar a palestra “Talentos: desenvolvendo serviços de excelência”, como comemoração ao dia do bibliotecário, na última sexta-feira (12/03), Celso explicou que a tecnologia não trouxe a felicidade esperada. “Quase 80% da nossa vida se tornou virtual, mas agora a angústia é ter que arranjar tempo para lidar com os milhares de amigos no Orkut, no Facebook, no Twitter”, enumerou.

Para evidenciar a ansiedade urbana, o palestrante utilizou ainda a proliferação dos aparelhos telefônicos portáteis como exemplo. “O celular trouxe mais tranquilidade, conforto, qualidade de vida ao ser humano, ou ele trouxe mais neurose?”, perguntou com bom humor à platéia de bibliotecários, para ele mesmo responder: “Agora a gente já fica na preocupação de atender, de ligar, de saber o que está acontecendo o tempo todo”.

De acordo com o especialista, porém, aqueles que não conseguirem acompanhar as novidades da nova era poderão adquirir doenças. “Já existem muitas pessoas que sofrem de normose”, declarou. “Não querem se adaptar a nada (tecnológico), mas fazem tudo igual aos outros só para agir como a maioria”, explicou. Segundo Celso, esse tipo de pessoa adquire as tecnologias, gasta seu dinheiro com isso, mas “na hora de colocar um CD no aparelho de som precisa chamar o filho de oito anos para ajudar”, complementou.

“O futuro é cérebro puro”

Por isso, em sua opinião, o determinante não é mais apenas “ter”. A validade está na quantidade de tempo em que se gasta para aprender e para preservar conhecimentos. “As bibliotecas, se tiverem um bom acervo, começarão a ter maior importância que as livrarias”, opinou o palestrante. Para Celso, assim como livros, existem outros objetos que estão sendo desperdiçados e jogados fora, o que reforça a máxima de que possuir não é tudo. “As pessoas estão comprando, comprando, comprando e não sabem mais o que fazer com as coisas”, sentenciou.

Na visão do palestrante, esse fator é consequência direta da necessidade premente de resultados imediatos que a sociedade atual vivencia. “O crescimento elevado das reclamações feitas pelos consumidores está relacionado a esse comportamento”, concluiu. E é através de um atendimento cada vez mais qualificado que os negócios de todo tipo, inclusive as bibliotecas, podem obter maior longevidade. “Quanto mais as pessoas sentirem sua necessidade, mais tempo de vida útil você terá”, garantiu Celso.

O professor doutor pela Unirio aproveitou ainda para criticar a lentidão e a ineficiência de alguns serviços. “O brasileiro tem o açoite da escravidão em seu DNA, por isso que só trabalhamos com urgência, na base do grito”, explicou. O caminho para resolver esse tipo de problema seria inovar de maneira inteligente. “O futuro é cérebro puro”, opinou Celso. “É fundamental realizar a transição da sociedade atual para uma sociedade sustentável, reformulando os modelos tradicionais de produção, consumo e expectativas de bem-estar”, finalizou.