É grande a expectativa em torno da nova Direção do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ. Eleito para o cargo de diretor-geral, o professor José Marcus Raso Eulálio, empossado em dezembro de 2009, revelou que suas principais metas são rever a estrutura administrativa do hospital e a política de recursos humanos. O novo diretor também prioriza a busca por um orçamento federal adequado às necessidades de insumos, reformas e manutenção de equipamentos do HUCFF.
“Minha principal motivação é dar sequência a uma estrutura pública que é reconhecida por sua competência, mas que está fragilizada pela falta crônica de recursos. Nosso hospital está irreconhecível e degradado enquanto núcleo físico, mas permanece ativo pelos ideais nele ensinados. Minha motivação é acreditar que posso sensibilizar as instâncias superiores a investir em estrutura física, para conseguir colher os frutos de toda a excelência investida por 200 anos consecutivos”, declara.
Ele considera delicada a atual situação do HUCFF, especialmente em relação aos contrastes: enquanto os laboratórios possuem equipamentos de última geração, as enfermarias estão lotadas de escombros e o hospital está carente de leitos e salas de cirurgias. “Como diretor em 2010, encontro meu hospital imensamente diferente daquele que conheci quando aluno, em 1984. Acho injusto, pois nestes 26 anos o acompanhei diariamente e vivenciei o excelente trabalho que ele prestou à sociedade”, lamenta.
O novo diretor resume o panorama do HUCFF em um triângulo de inconsistências. “No primeiro vértice está o subfinanciamento. No segundo, a ausência de reposição regular de recursos humanos e, no terceiro, o desgaste da estrutura física e administrativa”, avalia. Segundo ele, a principal demanda do hospital é receber recursos financeiros proporcionais a suas necessidades, já que acolhe, ao mesmo tempo, iniciativas de ensino, pesquisa e assistência.
Eulálio ainda atribui o atual problema da evasão de servidores do hospital à inadequação estrutural. “É um indicador de gravidade, um termômetro que define a urgência de algumas ações, como concurso público e melhora da estrutura”, analisa.
Metas e projetos
No que diz respeito à estrutura administrativa, José Marcus Eulálio pretende discutir as responsabilidades das partes envolvidas e incorporar gestores especialistas em saúde. O diretor considera de extrema importância rever a política de recursos humanos, com a participação das unidades acadêmicas. Ele também acredita que o passo fundamental para a implantação de um planejamento sustentável consiste em encaminhar solução para o fato de que existem quase mil funcionários extraquadro.
O diretor tem como objetivo obter recursos através do esforço político e do cumprimento de metas. “Porém, a injeção de recursos financeiros, apesar de fundamental para o sucesso de qualquer proposta, me parece insuficiente, pois os processos administrativos e as relações funcionais se encontram desgastados. O fluxo de atividades e de novas demandas em ensino, assistência e pesquisa cresceu em progressão geométrica. Tudo em um contexto de progressiva cobrança da performance de funcionários técnico-administrativos, docentes e discentes”, argumenta Eulálio. Sendo assim, ele propõe a revisão das relações interpessoais e institucionais, a cobrança de rotinas pactuadas e a construção de um grande projeto institucional que respeite e integre os inúmeros projetos locais.
“Este projeto de reestruturação deverá envolver todos os segmentos do hospital e prepará-lo para os desafios dos próximos grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016”, informa. A ideia é construir com o auxílio de profissionais da área de gestão, associados a um núcleo de especialistas em saúde. “Conseguimos apoio financeiro da Reitoria e da Prefeitura da UFRJ para demandas essenciais. A reforma completa será de corpo e alma (estrutura e processos de relações pessoais e institucionais)”, afirma Eulálio.
Outra iniciativa, em parceria com a Prefeitura do campus, chama-se “Operação Carinho”, consiste em um conjunto de ações simples para melhorar a qualidade de trabalho e o bem-estar dos profissionais. Por exemplo, alterações na pintura, mobiliário e reforma de salas de estar e dormitórios.
Apoios financeiros
Eulálio destacou o apoio contínuo da Reitoria da UFRJ ao HUCFF: “Em 2009, arcou por nove meses com o pagamento dos funcionários extraquadro. Em 2010, destinou, já em janeiro, R$ 1 milhão para a reforma de cinco elevadores, R$ 2 milhões para insumos e R$ 1,6 milhão para demandas prioritárias.”
O diretor declarou o interesse na organização dos recursos de outras fontes que não o Sistema Único de Saúde (SUS), como medida para ultrapassar a linha do subfinanciamento. “Recebemos emendas parlamentares para implantação de unidade de psiquiatria no valor de R$ 700 mil, bem como R$ 450 mil destinados à estruturação do Programa de Atenção Domiciliar e outras obras emergenciais. E ainda R$ 1 milhão para utilização em obras nos serviços em situação mais precária”, aponta.
No entanto, Eulálio enfatizou que tais valores são um alento inicial, já que o principal plano de reformas será implantado em conjunto com o Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF). “Através de pactuação com o Banco Mundial, estão destinados pelo REHUF ao nosso hospital R$ 12 milhões para obras estruturais, a serem aplicados até 2012. Já o quantitativo de orçamento será definido nos próximos meses. Estive em Brasília no dia da assinatura do decreto e pude comprovar a grande expectativa em relação ao nosso hospital”, relata.
Referência em pesquisa
“O HUCFF se orgulha de ser um hospital intrinsecamente vinculado à pesquisa e muito tem sido construído com o seu fomento. Existe, porém, um importante caminho a ser percorrido para a sua institucionalização”, indica Eulálio. Ele destacou o grande potencial do HUCFF para atrair recursos através da pesquisa. “O Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE), inaugurado recentemente, é um bom exemplo. Porém, é essencial que a estrutura básica do hospital possa dar respaldo a essas iniciativas. Nesse sentido, a presença do ministro da Saúde José Gomes Temporão marca o início de uma aproximação com a atual gestão para que, em conjunto, possamos encontrar uma solução a curto prazo para reforma e financiamento sustentável do nosso hospital”, conclui José Marcus Raso Eulálio.