De Porto Alegre – O Fórum Social Mundial realizou, na manhã desta quarta, dia 27, no Armazém 7 do Cais do Porto de Porto Alegre, a mesa de debates “Elementos da Nova Agenda – Sustentabilidade”, evento inserido no “Seminário Internacional 10 Anos Depois”. Estiveram presentes representantes de movimentos sociais ligados à Amazônia, aos povos do semiárido nordestino e povos andinos.
Amazônia
Henderson Rengifo, membro da Asociación Interetnica de Desarollo de la Selva Peruana (Aidesep), chamou a atenção para a devastação da Floresta Amazônia, em território peruano, por parte de empresas multinacionais, entre elas a Petrobras. “Os povos sequoia e quichua não querem as companhias transnacionais. A Petrobras está instalada em nosso território, explorando os nossos recursos naturais, contaminando nossos rios e deixando o nosso povo enfermo”, denunciou.
Rengifo acusou o governo do presidente peruano Alan Garcia de conivência com o que considerou um “atropelo aos povos indígenas do país”. “A selva é a nossa casa, é de onde retiramos o nosso alimento, nossos medicamentos, nossa educação e o local que podemos deixar de legado para os nossos filhos. Estamos aqui no Fórum Social Mundial para pedir a solidariedade de vocês. Queremos paz e tranquilidade de volta ao nosso território”, reivindicou.
O indígena fez ainda um apelo pela libertação de Alberto Pizango, presidente da Aidesep, exilado na Guatemala por conta de manifestações do movimento contra a instalação de duas empresas de energia em território peruano. “Em nossa mobilização em defesa da Amazônia temos perdido vidas na luta contra as forças neoliberais. Nosso líder está exilado, como se fosse um criminoso. Gostaria de dizer que não somos criminosos. Nosso povo está sendo castigado e somente o que queremos é lutar pela nossa sobrevivência”, afirmou.
Luís Antônio Campos, representante do Fórum Pan-Amazônico, seguiu a toada amazônica. Ele citou exemplos da exploração dos recursos naturais da floresta que, segundo ele, beneficiam a economia dos estados do centro-sul do Brasil, em detrimento dos povos amazônicos. “A devastação da Amazônia não está sendo combatida. Pelo contrário, ela é estimulada. O Amapá está sendo transformado em um território de eucaliptos, para a produção de celulose. A Barragem do Xingu vai acabar com o que os cientistas chamam de `biodiversidade desconhecida`. Além disso, as inúmeras linhas de transmissão de energia que saem da Amazônia seguem para os estados do sul, mas muitas comunidades pelas quais elas passam não têm energia elétrica. A quem este desenvolvimento está favorecendo?”, questionou.
O ex-coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura Municipal de Belém (PA) afirma que cerca de 60% da população amazônica vivem em áreas urbanas, em locais que ele denomina “campos de refugiados”, para designar favelas e outras comunidades carentes de políticas públicas sociais. “O que acontece hoje é que a Amazônia vive um regime colonial imposto pelo poder do capital privado, concentrado nos estados do centro-sul do país. É para lá que vão o nosso minério e outros recursos naturais, que são tirados da população local”, alerta.
Bens Comuns
Fátima Melo, diretora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), falou sobre a importância da luta pelos bens comuns, essenciais para a vida, como água e comida, segundo ela, privatizados em benefício de empresas transnacionais. “A luta contra-hegemônica deve incorporar a questão do modo de produção e sua relação com a natureza. O mundo não sobreviverá se não encurtarmos a distância entre produção e consumo, e o fluxo de mercadorias incessante”, destacou.
Soberania alimentar
A soberania alimentar foi o tema da palestra de Indra Lubis, da Via Campesina da Indonésia. Segundo o camponês, o problema da fome no mundo não é causado pela falta de alimentos. “A questão que devemos colocar é que esses recursos estão concentrados nas mãos de poucas empresas produtoras e distribuidoras de comida”, asseverou. Lubis citou o aumento no lucro das empresas de fertilizantes de 43% para 143% nos últimos 15 anos como exemplo da concentração da produção de alimentos.
O militante lembrou ainda que, na Indonésia, durante os anos 90, as empresas transnacionais, detentoras de grandes propriedades agrícolas, restringiram a produção de soja, sob o argumento de que não era um produto lucrativo. “O resultado foi o aumento do preço do tofu, alimento que é a base da alimentação do povo indonésio”, recordou. “Temos que lutar pela implantação de fazendas sustentáveis, que garantirá a soberania alimentar do nosso povo”, sugeriu.