“O rim é o órgão mais transplantado em todo o mundo”, afirma o doutor Renato Torres Gonçalves, coordenador-médico da Unidade de Transplante do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Deste modo, a série "Por uma boa causa", sobre transplante de órgãos, destaca os transplantes renais, que, segundo o doutor, “são os de mais fácil execução e de melhores resultados”.
Os rins são os principais órgãos responsáveis pela eliminação de toxinas. Eles filtram o sangue e excretam as substâncias indesejadas ao organismo. Também são fundamentais para manter os líquidos e sais do corpo em níveis desejados e participam no controle da pressão arterial.
A doença renal crônica “é uma das principais complicações em decorrência da hipertensão arterial, diabetes mellitus, e de outras doenças glomerulares, intersticiais e tubulares”, constata Renato Gonçalves. Seus principais sintomas são: fraqueza; cansaço; inchaço nos pés, pernas ou no rosto; dificuldade para urinar; urina com espuma, avermelhada ou escura; aumento ou diminuição na quantidade de urina. Ela progressivamente degenera o órgão até a perda completa de suas funções, levando à necessidade do transplante.
Quem pode doar
A doação por um paciente vivo apresenta menos complicações clínicas e, por se tratar de uma cirurgia programada, sem a necessidade da espera na fila, propicia maior sobrevida aos receptores do órgão. “Parentes próximos (até o quarto grau de consanguinidade) e cônjuges maiores de idade, saudáveis, podem doar seus órgãos em vida. Todos podem ser doadores após a morte, dependendo de uma avaliação funcional”, esclarece o coordenador da unidade de transplante.
Transplantes no Rio
De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), em 2009, até o mês de setembro, foram realizados 3.098 transplantes renais no Brasil. Abaixo da média nacional, de 21,8 transplantes por milhão de habitantes (pmh), o estado do Rio de Janeiro apresenta o índice de apenas 12,8 transplantes contra 41,1 de São Paulo e 39,9 de Santa Catarina. As estatísticas do Hospital Universitário revelam um quadro nada animador. Até 2006 o HUCFF realizava de 80 a 90 transplantes renais anualmente. Em 2007 e 2008 realizou a metade desse número e, em 2009, somente quatro cirurgias (até 10 de novembro).
Para o doutor Eduardo Rocha, coordenador didático-científico da Unidade de Transplante do Serviço de Nefrologia do HUCFF, a “ineficiência dos serviços que atendem os possíveis doadores de órgãos e a insuficiência e ineficiência dos serviços que realizam os transplantes renais” explicam o panorama fluminense. Em média, os pacientes aguardam sete anos na fila de espera da Secretaria de Saúde do estado à espera de um rim para transplante. A compatibilidade do sistema antígeno leucocitário humano (HLA) é um dos principais requisitos na distribuição dos órgãos para transplante.
Calvário até o transplante
Enquanto aguardam a sua vez, os pacientes vivem uma rotina marcada por sessões de terapia. “A hemodiálise é uma das terapias renais substitutivas, realizada usualmente três vezes por semana, com quatro horas de duração. Outra terapia é a diálise peritoneal. Elas não suprem totalmente a função de um rim saudável, sendo necessário que o paciente faça uso de medicamentos para corrigir, dentre outros, a anemia e a doença óssea”, esclarece o doutor Renato.
“Muitos pacientes falecem por doença cardiovascular antes de conseguirem receber um órgão transplantado. Problemas clínicos comuns entre os pacientes renais crônicos, como infecções, tumores e doença aterosclerótica, também podem dificultar ou impedir a realização do transplante”, avalia Eduardo.
Pós-transplante
Para evitar a rejeição do novo rim, os receptores devem tomar medicamentos imunodepressores. “Hoje dispomos de imunossupressores bastante eficazes, que colocam a sobrevida dos pacientes e dos enxertos, ao final do primeiro ano, maior que 90%, 95%. Sempre é necessário fazer uso de uma droga imunossupressora (após a cirurgia), porém em número e em doses menores do que na fase inicial do transplante renal”, diz Eduardo Rocha.
O tempo de duração do novo órgão depende da idade do doador, do seu tipo (vivo ou falecido), da compatibilidade HLA, das complicações observadas nos primeiros seis meses e também das condições clínicas (cardiovasculares) que os pacientes apresentem. “Um transplante pode durar poucos meses ou muitos anos, dependendo de características do receptor e do doador. Em geral, doadores vivos geram transplantes que duram mais de 15 anos”, afirma o doutor Renato.