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Resgate intelectual é mote em evento que comemora o ano da França no Brasil

Os séculos da modernidade foram marcados por ideologias e utopias acalentadas por um ideal de racionalidade progressista. Boa parte dos filósofos e pensadores da época, tomados por ideais positivistas e iluministas, colocava na razão a grande esperança da formação de uma sociedade mais justa, pacífica e fraterna.

As grandes reviravoltas do século XX, no entanto, puseram fim ao sonho do homem moderno. Os horrores das grandes guerras, o uso da ciência para a fabricação de armamentos de altíssima letalidade, bem como a utilização do aparato burocrático para se criar um verdadeiro exército de sonâmbulos – como fez, com maestria, o Führer Adolf Hitler –, colocaram em xeque a fé na racionalidade e no progresso científico como fontes criadoras de um mundo mais justo.

É exatamente neste contexto que o seminário internacional Das Redes Culturais às Humanidades Reinventadas foi realizado nos dias 3 e 4 de novembro, no Fórum de Ciência e Cultura da Ufrj.  A sessão de abertura ficou por conta dos setores que se uniram para realizar o evento: a Unesco, o Consulado Geral da França no Rio de Janeiro, o Fórum de Ciência e Cultura, a própria UFRJ, dentre os diversos patrocinadores.

Além de promover novos debates a respeito do que é o ser intelectual no mundo contemporâneo, o evento também exaltou a importância de se reatarem os elos entre Brasil e França. “A relação da França com o Brasil não pode ser de mero `‘fóssil’”, diz Aloisio Teixeira, reitor da UFRJ. Vincente Defourny, representante da Unesco no Brasil, apontou para a importância do evento como grupo de reflexões e estudos necessário para que seja possível a reinvenção do pensamento. “Os caminhos da humanidade passam por uma revigoração das ciências humanas”, explica. 

A sessão Caminhos do Pensamento: humanidades reinventadas foi conferenciada por Eduardo Portella, escritor, coordenador do projeto, além de professor emérito da UFRJ. Dentre outros tópicos postos em questão, propõe Portella que os organismos internacionais – tais como a ONU ou  a própria Unesco – não sejam mais gerenciados por uma “política de resultados”. O professor explica que tal mecanismo de tomada de decisões pode ser útil num pregão da bolsa de valores, mas não quando se trata de vida cotidiana, em que tomar um único resultado como predominante pode ter consequências ineficientes ou mesmo desastrosas. Sua proposta é de uma lógica na qual uma ONU só de vencedores, ou de uma Unesco voltada para culturas hegemônicas, pareça completamente sem  sentido.

Neste ambiente de alterações globais, a educação surge como ferramenta de desmassificação das massas. Daí o porquê da importância da figura do professor e, por conseguinte, do intelectual. A esse respeito, Sérgio Paulo Rouanet, escritor, diplomata e professor da Universidade de Brasília, diz gostar da definição em que “o intelectual é aquele que se mete com aquilo que não é da sua conta”.