Acontece até sexta, dia 23, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), no campus da Praia Vermelha da UFRJ, a "III Reunião Científica Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas". O evento é promovido pelo Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH) da UFRJ e reúne autoridades, juristas, professores e pesquisadores do tema não apenas da UFRJ, como de outras universidades e demais instituições.
Na última quarta, dia 21, abertura do evento, Antônio Almeida, pesquisador da PUC-SP, narrou alguns aspectos do cotidiano dos boias-frias. O estudioso explicou que, por serem oriundos de regiões pobres, os trabalhadores enxergam nos canaviais de São Paulo a oportunidade de melhorarem de vida. “São pessoas invisíveis aos olhos do governo. Resta a eles apenas a migração forçada e temporária para áreas mais desenvolvidas do país”, afirmou.
Assim que chegam ao Sudeste brasileiro e depois de arregimentados para extraírem a cana, os trabalhadores se instalam em barracos e cortiços da periferia da cidade. Pagam, em média, R$ 150 mensais por essas moradias, intituladas por Almeida de “novas senzalas”. Nelas, os boias-frias dormem amontoados no chão ou dividem um único colchão com cerca de seis colegas de trabalho.
Segundo o pesquisador, esses trabalhadores são, em geral, homens entre 18 e 20 anos e analfabetos funcionais — possuem de 3 a 7 anos de escolaridade. Nos canaviais, são imbuídos de cortarem de 10 a 15 toneladas de cana por dia. Caso não cumpram a meta, podem ser demitidos no segundo mês de trabalho. “Eles são violentados nas usinas. Não só violentados, como também mortos. De abril de 2004 a julho de 2008, 21 trabalhadores morreram por exaustão nos canaviais de São Paulo. Essa é uma estatística; sabemos que, na prática, esse número é maior”, observou Antônio Almeida.
Confira a reportagem na íntegra na edição 273 do Olhar Virtual, no ar, na próxima quarta, dia 28.