“Todas as pessoas, pelo menos uma vez na vida, já pararam para se fazer esta pergunta: qual a origem de todas as coisas?”. Foi com essa fala que Marcelo Gleiser, professor de Física e Astronomia da Universidade Dartmouth, abriu sua palestra nessa quinta-feira (1/10), no Salão Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ. Em evento organizado pela COPEA – Coordenação de Programas de Estudos Avançados, o pesquisador afirmou que, desde muito antes do aparecimento da ciência, o sentido da existência já era alvo da curiosidade humana.
“Quem somos? De onde viemos? Como surgiu o mundo? Qual a razão da vida? São questões que frequentemente vem à nossa mente”, afirmou. Segundo Gleiser, por mais diferentes que sejam, todas as culturas históricas explicam de alguma maneira a criação do mundo, através da divinização da natureza. São várias as versões sobre o assunto, a maioria teorizando sobre a existência de um deus ou de uma entidade absoluta transcendental que, fora do tempo e do espaço, teria usado seu poder absoluto para criar o mundo.
Gleiser explicou ainda como o entendimento acerca do tema foi evoluindo de acordo com as descobertas científicas, proporcionadas através do surgimento de novos aparatos tecnológicos. “Tales de Mileto, em 600 a.C., foi o primeiro a usar a razão para tentar entender a formação das coisas”, explicou ele, relembrando que o filósofo atribuía a composição das matérias à água, sempre dinâmica e em transformação. “Hoje nós sabemos que 60% do nosso corpo é composto por água, o que prova que ele não estava tão errado assim”, comentou o professor.
Baseando-se no geocentrismo, Aristóteles afirmou que o cosmos seria formado por quatro essências passíveis de transformação (terra, água, fogo e ar), além de uma quinta, imutável, formada por corpos celestes (lua, sol, estrelas, planetas). “Esse pensamento foi apoiado pela Igreja, pois defendia muitos dos conceitos da teologia cristã, desenvolvida na Idade Média.”, disse Gleiser, ressaltando que o pensamento aristotélico sobre a existência das coisas provavelmente tenha sido a ideia científica que mais perdurou, sendo defendida até meados do século XVI.
Em 1543, o astrônomo Nicolau Copérnico, apesar de toda a resistência religiosa, começou a defender o heliocentrismo, afirmando ser o sol o centro do cosmos. “Copérnico percebeu que fazia muito mais sentido o arranjo estético dos planetas, com o sol estando no meio do Universo. Por isso, Mercúrio, primeiro planeta do sistema solar, leva 3 meses para orbitar ao redor do sol, enquanto Vênus leva 8 meses e a Terra 1 ano para percorrer a mesma trajetória”, exemplificou o palestrante.
Entre as descobertas mais recentes, a da existência de outras galáxias no Universo talvez seja a mais importante do último século. “Com o auxílio de um telescópio mais desenvolvido, Edwin Hubble comprovou ainda que as galáxias se afastam com uma velocidade proporcional à distância que as separa”, afirmou Marcelo Gleiser. Na opinião dele, quanto mais se evolui tecnológica e cientificamente, mais clara fica a visão humana sobre o sentido da vida. “Coletamos cada vez mais informações que, um dia, provavelmente nos possibilitarão dar uma explicação à existência desse mundo e à nossa própria”, concluiu.