A palestra “Onde andará Iracema?” foi a primeira da sexta edição do Encontro de Português - Língua Estrangeira do Rio de Janeiro.

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Memória

Revisitando Iracema

A palestra “Onde andará Iracema?” foi a primeira da sexta edição do Encontro de Português – Língua Estrangeira do Rio de Janeiro.

A falta de energia elétrica repentina foi a causadora do calor que se abateu no auditório G2 da Faculdade de Letras da UFRJ. No entanto, a falta de ar-condicionado e de microfones não desanimou o público que lotava o lugar. Os olhares estavam voltados para o palestrante da conferência “Onde andará Iracema?”, a primeira da sexta edição da PLE – Encontro de Português Língua Estrangeira do Rio de Janeiro. Membro da Academia Brasileira de Letras, poeta, ensaísta, crítico literário e professor titular de Literatura Brasileira da UFRJ, o professor Antonio Carlos Secchin utilizou a obra de José de Alencar e duas intertextualizações para  desvendar de onde saiu e para onde vai a famosa “virgem dos lábios de mel”.

“Vocês devem estar se perguntando o que faz um professor de Literatura Brasileira abrindo um congresso de línguas. Vocês não sabem, eu também não sei. Talvez seja pela generosidade dos colegas que acharam que, eventualmente, podemos fazer algumas intersecções entre dois campos tão próximos que são o da Língua e o da Literatura”, descontraiu o professor logo de início.  E, de fato, os pontos de encontro existem e foram abordados por Secchin.

O imortal iniciou o seminário, intitulado “Português – Língua Estrangeira no Brasil do Século XVI”,  pronunciando em tupi a frase “um dia muito bom começa para nós hoje”. Ao resumir a história de Iracema, índia fiel à sua tribo, que se apaixona pelo branco Martim, o poeta expôs que, por muitos anos, a língua portuguesa foi vista como estrangeira nestas terras, frente ao tupi, idioma de algumas das tribos nativas.  No entanto, “uma das estratégias do colonizador foi aprender a língua do colonizado para, através dela, conseguir veicular sua ideologia, seus valores e seus costumes europeus”, relatou o palestrante, destacando que a obra apresenta traços etnocêntricos ao abordar a relação entre o colonizador e o autóctone.

Das páginas do romance Secchin rumou para a poesia Parnasiana de Olavo Bilac, com o soneto “O Brasil”, de 1902, em que o país-título é descrito como um destino muito elevado comparado a outras grandes viagens Todas as belezas do país-título remetem à figura feminina, à virgem morena e pura, fazendo o colonizador desejar ser dominado, de forma pacífica, entretanto. Terra e mulher se fundem em uma mesma imagem.

Dando um salto no tempo, Antônio Secchin fez a leitura de “Iracema Voou”, escrito em 1998, por Chico Buarque. O intertexto reapresenta a personagem com uma etnia esfacelada, em contraposição à original, puramente brasileira.  Ilegalmente na América – palavra que é um anagrama – do vocábulo Iracema, a versão do compositor se opõe a de José de Alencar em diversos outros pontos: em Alencar, Iracema segue seu desejo e sai do país, anda vestida com roupa de lã, ao passo que a índia de Chico vive nua e lava chão em uma casa de chá – demonstrando uma queda da hierarquia da personagem, que em sua primeira versão era quem fazia o chá.

Se no século XVI o idioma português era a língua estrangeira, no XX, o obstáculo é outro: aprender inglês. Para o professor, esse processo faz surgir a “metonímia da cultura preponderante a que Iracema se submete.

O seminário foi apenas o primeiro de uma série de eventos do VI PLE-RJ, cujo tema é “Língua e Cultura: Itinerários Contemporâneos”. O encontro foi realizado em parceria com a UFF e a PUC-Rio. “A colaboração acadêmica só fortalece o grupo”, ressaltou Rosa Marina Meyer, representante da PUC no Comitê Executivo. Além de palestras e mesas-redondas, o evento conta também com minicursos e será realizado até dia 4 de setembro, na Faculdade de Letras. Os interessados devem se inscrever no próprio local. Mais informações pelo e-mail plerj6@gmail.com.