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Marxismo contra a barbárie

Encontro que debateu o Socialismo no século XXI reuniu pensadores latino-americanos no Fórum de Ciência e Cultura.

 Três renomados intelectuais da esquerda latino-americana se reuniram na tarde da última quarta-feira, dia 26 de agosto, no Salão Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, para discutir os rumos do Socialismo no século XXI. Jorge Giordani, ministro de Planejamento da Venezuela, José Paulo Netto, professor da Escola de Serviço Social, e Carlos Nelson Coutinho, diretor da Editora UFRJ, travaram um profícuo debate acerca da atualidade do pensamento marxista.

Iniciando a palestra, Jorge Giordani destacou três dados da realidade mundial que justificam a necessidade de a Esquerda permanecer na militância pelo Socialismo. Segundo o ministro, o aprofundamento da pobreza, os perigos ambientais impostos pelo modo de produção capitalista e a crise financeira global se constituem em agentes motivadores da luta por um sistema alternativo de reprodução social.

Ao comentar o governo Chávez, Giodani pontuou avanços promovidos no bem-estar social do povo venezuelano na última década. Ele lembrou, por exemplo, que, antes de sua ascensão ao poder, a renda obtida com o comércio de petróleo era remetida ao exterior. Hoje, no entanto, os recursos petrolíferos são utilizados para satisfazer necessidades sociais internas. “O Socialismo pode ser uma utopia, mas, no caso da Venezuela, é também uma esperança”.

Durante o encontro, os intelectuais frisaram que o sistema socialista se apresenta como a única alternativa ao colapso iminente do capitalismo. Citando a filósofa marxista Roxa de Luxemburgo (1871-1919), José Paulo Netto enfatizou que a humanidade deve optar entre o Socialismo ou a barbárie. “Todos os indicadores, provenientes das fontes mais diversas, mostram que, nos últimos 40 anos, se aviltou, em escala mundial, a condição de vida da massa da população. A realidade impõe a perspectiva do Socialismo como absolutamente atual”, sublinhou.

De acordo com o professor, as últimas quatro décadas assistiram à emergência de três grandes impasses — polarização entre riqueza e pobreza; barbarização política, com o renascimento do racismo e da xenofobia; e os desafios lançados pela questão ambiental — incapazes de serem sanados no seio do modo de produção capitalista. Para Paulo Netto, o atual sistema de riqueza social seria suficiente para as 6 bilhões de pessoas do globo, caso o regime de exploração do trabalho fosse superado.

Para edificar uma nova ordem social, o intelectual acredita ser imperioso romper com as relações fundadas na propriedade privada e defende a preservação das instâncias universalizantes. “Sem partido político não se faz revolução”, disse.

Em consonância com Paulo Netto, Carlos Nelson Coutinho também enxerga no sistema socialista a saída para o desgaste do capitalismo. O pensador destaca, entretanto, que o mundo não está fadado a chegar ao Socialismo. Pelo contrário: cabe aos homens lutar diariamente pela implantação desse modo de produção.

Coutinho resgatou algumas discussões marxistas engendradas na Revolução Russa de 1917 e aproveitou para enumerar falhas do Socialismo vivenciado na antiga União Soviética. “O modelo tal como se apresentava na década de 1920 desapareceu. A China tem uma política neoliberal e não é exemplo. A Coreia do Norte também não. Cuba ainda é uma esperança, mas está falida. O Socialismo não é um ideal ético. É um novo modo de produção e de sociabilidade, de intercâmbio entre os homens. Temos que repensá-lo a partir disso”, exortou.