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Pesquisa estuda a realidade dos menores de rua

 No Rio de Janeiro e em metrópoles de maneira geral, é constante a presença da população de rua em diversos pontos. Os desabrigados passam fome, frio e têm problemas sanitários e de saúde, o que se torna ainda mais grave quando se trata de crianças e adolescentes. Tais jovens, devido a problemas como perda dos pais e dificuldades no convívio familiar e comunitário por abuso físico, mental ou emocional, vão para as ruas e posteriormente são acolhidos pela rede de abrigos.

No entanto, eles muitas vezes fogem dessas instituições, os que ficam, após o período de proteção, que vai até a maioridade legal, nem sempre conseguem se reinserir na sociedade. Com o objetivo de investigar a maneira como esses jovens que estão fora do convívio familiar e abrigados na rede de assistência social se sociabilizam dentro dessas instituições, a professora Ligia Costa Leite, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, desenvolveu a pesquisa “Evasão escolar, drogas, criminalidade: os descaminhos na adolescência e suas articulações com o sujeito”.

Iniciado em 1992, o projeto, que contou com a participação de alunos de mestrado e bolsistas, foi apresentado na Jornada de Iniciação Científica e ainda gerou um livro chamado Juventude, Desafiliação e Violência, lançado em agosto do ano passado. O grupo trabalhou com cinco abrigos no município do Rio de Janeiro e procurou identificar as formas de violência que interferem na saúde mental dos jovens, que muitas vezes os levam a assumir a violência como linguagem interpessoal. “Nem sempre a violência é apenas física. Há também a silenciosa, como a falta de oportunidade para escolaridade”, diz a pesquisadora.

Os motivos da falta de adaptação dos menores aos abrigos variam muito. Vão desde o impacto da “perda da liberdade” que eles tinham nas ruas e tiveram de trocar pelas regras impostas pelo abrigo (devido à responsabilidade que recai sobre a instituição), até problemas de relacionamento dentro do local.

Um dos fatos constatados por ela é de que os menores chamam todas as instituições, como delegacias de proteção e clínicas, e até projetos, genericamente de abrigo. Com relação aos laços familiares, de acordo com a pesquisa, a maioria dos jovens, estimada em 63%, ainda mantém contato com a família ou com algum familiar, e 64% desejam o retorno para casa.

Segundo Ligia, a pesquisa coletou narrativas de 30 jovens de 12 a 17 anos, buscando recolher material que possibilitasse compreender o ponto de vista deles sobre o sistema de abrigo. Assim, poderia propor a reflexão sobre uma modalidade de proteção que inclua os jovens como sujeitos. A idade-limite foi escolhida por representar o fim da proteção do abrigo. “Aos 16 ou 17 anos eles começam a se conscientizar de que devem ter alguma perspectiva de vida”, afirma a professora.

Os projetos de vida eram ligados à educação, família e ao trabalho. “Cerca de 50% desses jovens agregaram nos seus projetos algum tipo de institucionalização. Sete queriam seguir carreira militar e oito queriam atuar na área de assistência social”, relata Ligia.

Alguns tipos de projeto eram bastante idealizados e estavam além das possibilidades reais de concretização. Entre as realizações almejadas estavam: ser juiz, cabeleireiro, garçom e executivo. Até mesmo casar foi visto como projeto de vida. “Um deles disse apenas que queria cursar uma faculdade. Quando perguntado qual delas, ele disse que não importava, revelando assim o imaginário de que tendo uma faculdade você está em outro status social”, conta a professora.

Por fim, a pesquisa concluiu que existe uma interferência das questões subjetivas na relação estabelecida entre esses jovens e as instituições. Exemplo disso é o desejo de serem vistos como sujeitos de escolhas para os encaminhamentos que lhes são dirigidos