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Centro de Ciências da Saúde aborda educação para a cidadania

A decania do Centro de Ciências da Saúde (CCS) realizou na última sexta-feira, dia 3, o evento “Educação para a Cidadania – Transdisciplinaridades em Saúde”. Com apresentações de trabalhos de diversas áreas da saúde, os professores e bolsistas expuseram à comunidade acadêmica presente suas pesquisas e projetos.
 
O professor Roberto Leal, representando o decano do CCS, Almir Fraga Valladares, deu as boas-vindas a todos e exaltou a importância dos trabalhos de extensão da UFRJ, que recentemente têm ganhado boa visibilidade, e o crescimento das parcerias. A coordenadora da Extensão, Diana Maul, acrescentou que vários projetos estão se desenvolvendo e ressaltou a integração entre as várias unidades do centro.

A coordenadora do Projeto Saúde e Educação para a Cidadania, Florence Brasil, elogiou a atual gestão do projeto, que segundo ela é compartilhada por vários co-coordenadores. “Não temos uma hierarquia, temos um coletivo que dialoga, discute, cria e produz, principalmente conhecimento de extensão, que é de muita importância. Temos que começar a pensar em extensão com fundamentação teórica”, declarou Florence.

A primeira mesa-redonda do evento foi “Indissociabilidade: Ensino, Pesquisa e Extensão”, com as professoras-doutoras Vera Helena Ferraz de Siqueira, do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES), e  Ligia Costa Leite, do Instituto de Psiquiatria (IPUB). A professora Ligia foi a primeira a expor seu trabalho, que inclusive gerou um livro chamado Juventude, Desafiliação e Violência,  desenvolvido com meninos de rua que são abrigados e por vezes fogem dos abrigos.

O projeto foi feito com profissionais de saúde mental do IPUB, alunos de mestrado e bolsistas. A pesquisa, desenvolvida desde 1992, chama-se “Evasão Escolar, drogas, criminalidade: os descaminhos na adolescência e suas articulações com o sujeito”. Trata-se de um projeto interdisciplinar cujo objetivo foi investigar como os jovens fora do convívio familiar e inseridos na rede de assistência social do Rio de Janeiro se sociabilizam dentro dessas instituições.

“Nós tínhamos como hipótese que eles acabavam vinculados à rede de assistência social. Quem trabalha com crianças e conhece o estatuto da criança e do adolescente sabe que, até 1990, eles viviam em internatos fechados. Em 1997 começou a ser criado um número significativo de conselhos de defesa, que formassem conselhos tutelares para os municípios e os estados”, explica Lígia.

Segundo ela, durante esse período as crianças que estavam fora da rede de internatos não possuíam lugar para ficar. Com os estatutos, medidas protetoras começaram a ser implantadas, a princípio nas regiões Sudeste e Sul. O trabalho coletou narrativas de 30 jovens de 12 a 17 anos, buscando recolher material que possibilitasse compreender o ponto de vista deles do sistema de abrigo e assim propor a reflexão sobre uma modalidade de proteção que inclua os jovens como sujeitos. Ligia conta que a idade final foi escolhida por representar o fim da proteção do abrigo. “Aos 16 ou 17 anos eles começam a se conscientizar de que devem ter alguma perspectiva de vida”, afirma.

O grupo, que trabalhou com cinco abrigos no município do Rio de Janeiro, procurou também identificar as formas de violência que interferem na saúde mental dos jovens e muitas vezes os levam a assumir a violência como linguagem interpessoal. “Às vezes a violência não é apenas física. Há também violência silenciosa, como a falta de oportunidade para escolaridade”, disse a pesquisadora. A equipe utilizou um método de abordagem qualitativa aplicando um roteiro de entrevistas semiestruturado e, após  análise, chegaram a alguns resultados.

A equipe da professora identificou projetos de vida dos jovens (que por vezes incluíam expectativas incompatíveis com sua realidade) e concluiu que há a interferência das questões subjetivas na relação entre esses jovens e as instituições, como, por exemplo, o desejo de serem vistos como sujeitos de escolhas para os encaminhamentos que lhes são dirigidos.

O evento contou ainda com exposições de outros trabalhos e  uma apresentação dos relatórios e do cronograma de ação para o segundo semestre de 2009 e primeiro semestre de 2010.