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Socióloga critica construção de muros em favelas

Em crítica ao projeto que prevê a construção de muros em torno de favelas da cidade, a secretária-geral do Instituto de Criminologia do Rio de Janeiro, Vera Malaguti, alertou na quarta, dia 1º, para a importância de um novo olhar sobre as comunidades. Durante a palestra “Medo, violência e liberdade”, promovida pelo Fórum de Ciência e Cultura dentro do ciclo de debates “Diálogos Cariocas”, a socióloga defendeu o retorno às utopias urbanas.

“A cidade que se esconde é a cidade que quer se libertar. Em 64, a esquerda amava os morros cariocas. Hoje, nós nos distanciamos deles. É preciso vencer a arquitetura da escravidão e deixar emergir o nomadismo”, declarou Malaguti, relacionando o uso da mão de obra negra ao comportamento atual de distanciamento entre classes sociais.

Utilizando a citação do pintor francês Debret sobre o extermínio de selvagens, a socióloga afirmou que os brasileiros, por se assemelharem muito aos africanos, buscam construir uma cidade que os afaste dessa memória. Ela ainda acrescentou, com humor, que essas perspectivas se mostram frustradas ao observar a adesão às batidas a um ritmo tipicamente carioca, o funk.

A história 

Ela ilustrou o encontro com uma viagem ao Rio de Janeiro do século XIX. Nesse sentido, citou importantes teóricos, como Walter Benjamin e Milton Santos. A socióloga comparou o controle do deslocamento de escravos do século passado com os atuais muros que dividem favela e asfalto. Para ela, existe um reflexo histórico que deve ser observado.

“A história é um abrigo que nos faz observar as situações em melhor perspectiva. A segurança de hoje continua sendo uma caixa-preta. É preciso mergulhar na própria memória para desejar um novo futuro”, analisou a socióloga, explicando a decisão de nortear o debate por um olhar mais histórico.

A manutenção de conceitos ultrapassados, como a incomunicabilidade em cadeias, também foi criticada pela socióloga. Segundo ela, a ideia de manter os presos encarcerados, sem contato com o exterior, data do século XIX e foi evitada durante muitos anos no Brasil com uso de telefones públicos dentro das prisões, havendo grampo apenas quando necessário. Os aparelhos celulares mudaram essa realidade.

A elite e o preconceito

A convidada criticou ainda o comportamento de parte dos moradores da classe média alta da cidade. Segundo a socióloga, há um apoio forte à violência contra os moradores dessas comunidades.

Para ilustrar o comportamento da elite, lembrou o episódio em que duas vans levaram a um shopping da Zona Sul do Rio de Janeiro dezenas de integrantes do movimento de trabalhadores sem-terra. Embora não tenham ocorrido manifestações contrárias, a surpresa e o desconforto dos frequentadores foram perceptíveis, sinalizando um afastamento das utopias urbanas.

“Diálogos Cariocas” termina na sexta, dia 3, com a palestra “Rio: favela ou bairro?”. O evento ocorre, das 14h às 18h, no Salão Dourado do Fórum de Ciência e Cultura, no campus da Praia Vermelha. O endereço é av. Pasteur, 250, Urca.