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Serviço de Psiquiatria Médica discute a adesão ao tratamento

O Centro de Estudo Lúcia Spitz, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), promoveu, dia 24 de junho,  uma palestra sobre o tema “Má Adesão: o que fazer quando o paciente não segue o tratamento?”. Durante o evento, foram discutidos os fatores que podem causar a má adesão ao tratamento e o que pode ser feito para que esse quadro seja revertido.

Problemas de Adesão na Diabetes

A primeira palestrante, Lenita Zajdenverg, professora-adjunta e pesquisadora em diabetes, começou sua apresentação falando que “existe tratamento eficaz contra a diabetes, mas que apesar disso dados apontam que em torno de 75% dos pacientes têm mau controle da doença”. Segundo Lenita, essa má adesão se daria por diversos fatores, entre eles a frustração por não haver cura para a doença e a necessidade de se privar de alguns alimentos que seriam agradáveis ao paciente, para melhor controlar o problema.

— Outro fator importante para a redução da adesão na diabetes é o fato de a diabetes não doer. O que dói é o tratamento, que priva de alimentos, faz o sujeito ter que abandonar o sedentarismo, ter que se autoaplicar medicação injetável. E como muitas vezes o paciente não sente nada, ele não vai valorizar o tratamento — observou a doutora Lenita.

O alto custo do tratamento também foi apontado como barreira para a adesão do paciente. “Se o paciente fizer uso de análogos de insulina e a automonitoria quatro vezes ao dia, que seria o ideal, o custo mensal do tratamento não sairia por menos de 726 reais”, comentou a palestrante.

Para Lenita Zajdenverg é importante fazer com que o paciente compreenda o tratamento, saiba reconhecer algumas complicações e que esse tratamento tenha custo acessível e seja confortável para a pessoa. “Eu acredito que se o paciente vem à consulta médica, mesmo que não tenha feito adesão ao tratamento, existe uma representação do desejo de se tratar. O médico teria que encontrar um lugar onde ele se encaixe nesse desejo. Reconhecer e acolher as limitações do paciente é o primeiro passo para combatê-las.”

AIDS e a visão dos pacientes

A segunda palestrante foi Gisela Cardoso, professora do Serviço de Psiquiatria. Segundo ela, a adesão ao tratamento de AIDS é importante, pois muda completamente a evolução da doença. Mas vários fatores podem influenciar essa adesão, como o momento do diagnóstico, a forma como a doença evolui, os efeitos adversos do tratamento e o relacionamento criado entre o paciente e o profissional.

A doutora Gisela apontou que alguns estudos apresentam dois fatores influentes na adesão: a baixa escolaridade e a falta de renda. “A escolaridade baixa implica uma dificuldade de entender o que o médico fala, de ler a receita médica. E a falta de renda mostra como o indivíduo está inserido de maneira muito precária na sociedade”, explicou.

Segundo a palestrante, em um estudo feito com os pacientes do HUCFF, incluindo aderentes e não-aderentes, foi visto que a representação que os pacientes têm da doença depende da adesão ou não ao tratamento. “Os aderentes diziam que no começo tinha sido uma coisa muito difícil de aceitar, mas que agora já estavam mais adaptados, principalmente por haver um tratamento. Os não-aderentes ficavam sob o impacto do diagnóstico da doença”, informou.

esse estudo ainda foram apontadas pelos pacientes algumas razões para a não-adesão. Entre elas figuram o medo da discriminação decorrente do tratamento, a mudança de hábitos e o desânimo em relação ao tratamento que não oferece uma cura para a doença. “O mais curioso é que mais da metade dos pacientes considerados aderentes revelou já ter parado com o tratamento em algum momento porque estava cansado, por conta dos efeitos colaterais da medicação ou para fazer um teste”, comentou Gisela.

Por fim, a doutora ainda comentou que a adesão ao tratamento não é linear. “Em algumas situações de vulnerabilidade, o paciente pode parar com o tratamento. Geralmente em situações de separação, de perda, de discriminação ou quando é necessário trocar o esquema de tratamento. Até mesmo a mudança de médico”, concluiu.