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Curso de extensão discute o cinema na escola

Com o objetivo de pesquisar as possibilidades que o cinema oferece no campo da educação, foi realizada no dia 26 de junho a primeira aula do projeto de pesquisa e extensão Cinema para Aprender e Desaprender (Cinead), realizado por professores da Faculdade de Educação (FE/UFRJ). A apresentação aconteceu no auditório Manoel Maurício de Albuquerque, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Participaram os professores da FE/UFRJ Adriana Fresquet, Alexandre Ferreira Mendonça, Estevão Mabilia Maguzzo e Iara Machado Arendt.

O curso visa aproximar professores e alunos da experiência do cinema. Foram apresentadas algumas teorias cinematográficas, em particular a do cinema como substituto do olhar (cinema como o “outro”), como arte, pensamento e manifestação de afetos e simbolização do desejo. Os professores propuseram também a desconstrução da visão instrumentalizada do cinema na prática pedagógica.

“A ideia é ampliar a pesquisa que estamos fazendo e levá-la para a sala de aula. Não é um curso para cineastas. É uma introdução para aqueles que se interessam pelo assunto”, afirma Adriana Fresquet, coordenadora do projeto. Para Estevão Mabilia, o curso tem como objetivo “desaprender e reaprender com o cinema”, defendendo a proposta da “pedagogia enquanto arte, enquanto vida”.

Durante a aula, foram discutidos filmes como A câmera de madeira, Cada um com seu cinema e Cinema Paradiso. Depois de algumas análises sobre os conteúdos dos trechos exibidos, os professores explicaram parte da fundamentação teórica e metodológica do projeto, que inclui as teorias de Walter Benjamin, Jaques Aumont e Michel Marie. Além disso, falaram sobre a importância de Jean-Luc Godard no que diz respeito à busca da memória do cinema e à cinemateca vista como locus de pensamento sobre a produção cinematográfica.

Alain Bergala foi citado por ser o consultor de cinema do projeto de “A missão”, que levou as artes às escolas públicas francesas. Sua leitura do cinema como “hipótese de alteridade” representa a reconfiguração da escola na presença do cinema, entendido como um outro que provoca a instituição escolar com o ato criativo. Ao entrar em contato com o universo dos filmes, o ambiente escolar sofre profundas alterações em relação ao espaço, modificando também as relações pessoais.

“Alguns alunos considerados perdidos na escola se encontram quando entram em contato com o cinema. O aluno se encontra no desejo, na vontade de aprender. O cinema pode alterar a relação que o adolescente tem com a própria instituição. Isso é mágico. Às vezes, uma pessoa que tem problemas para aprender matemática filma coisas incríveis e passa a ser olhado de outra maneira pelas autoridades escolares e pelos colegas”, explica Adriana Fresquet.

A coordenadora informou que um dos objetivos do projeto é desinstrumentalizar o cinema. “O cinema não pode ser apenas uma ferramenta. Podemos ter um aprendizado vital e não formal através dele. Os filmes nos ensinam a seduzir, a encantar, a perder. São coisas que não aprendemos na escola”, complementa Adriana.

O cinema e a infância

Sobre as experiências no Colégio de Aplicação (CAp/UFRJ), a professora afirma que há uma tentativa de aproximação do cinema com a infância. “O cinema sempre afeta. E quando falamos de infância, os efeitos são maiores. Estamos passando filmes no recreio e na biblioteca do CAp, tentando impregnar a escola de cinema.” 

Outro propósito do projeto é analisar questões da infância e adolescência com espectadores nessa faixa etária, através de filmes que não costumam entrar no circuito comercial. “O legal é pensar junto com o aluno e não trazer respostas prontas. O filme hoje não é valorizado na escola”, afirma o professor Alexandre Ferreira Mendonça.

Após a exibição de alguns filmes dos irmãos Lumiére – que dispunham de câmera fixa e películas de 17 metros, produzindo filmes de aproximadamente 50 segundos –, os alunos tentaram restaurar “a primeira experiência do cinema” filmando os jardins da Praia Vermelha, inspirados numa prática das oficinas pedagógicas da cinemateca francesa. Deste modo, fizeram a experiência de restaurar a própria infância do cinema.