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Adufrj homenageia professores cassados pela Ditadura

Evento realizado no IFCS homenageou professores cassados pela ditadura.

Brasil, 1969. O regime militar estava no poder do país e, desde um ano antes, quando o presidente Arthur da Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), recrudescia a censura e a repressão às vozes dissonantes ao governo. Os ataques à liberdade de expressão eram perpetrados também contra o ambiente acadêmico.

Foi em abril de 1969 que se agravaram os atos de perseguição política a professores universitários. A Ditadura instaurou, nesse período, um processo de aposentadoria compulsória que afastou das universidades públicas brasileiras centenas de docentes que, de alguma forma, não se curvaram às arbitrariedades dos militares.

Para celebrar a coragem desses profissionais de ensino e como parte das comemorações de seu 30º aniversário, a Seção Sindical de Docentes da UFRJ (Adufrj) promoveu, na última quinta-feira (25), uma homenagem aos docentes cassados durante os “anos de chumbo”.

O evento, ocorrido no salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), se constituiu em um misto de lembranças e perspectivas. Por mais de duas horas, foram revisitadas algumas experiências relativas à Ditadura e, em contrapartida, também foi pauta do debate a discussão sobre o futuro do Ensino Superior no Brasil.

Durante o encontro, os professores cassados nas décadas de 1960 e 70 e os parentes daqueles já falecidos receberam placas que destacavam a luta aguerrida desses profissionais no seio do regime militar. Entre os homenageados, estava Darcy Ribeiro, educador cujo registro foi cassado em 1964, antes mesmo das aposentadorias compulsórias. Darcy, falecido em 97, foi representado pelo sobrinho, Paulo Ribeiro.

Anita Macedo, esposa de Horácio Macedo, reitor da UFRJ entre 1985 e 89, também participou da cerimônia. Horácio morreu em 1999, mas deixou inscrito na história da universidade o desejo de um país mais justo e democrático. Foi um dos cientistas atingidos pelo chamado “Massacre de Manguinhos”, episódio no qual dez renomados pesquisadores foram impedidos legalmente de exercerem sua profissão.

A matemática Maria Laura Leite Lopes, professora emérita da UFRJ e atual coordenadora do Projeto Fundão, foi a única a receber duas homenagens na noite de quinta-feira. Isso porque, além de ter sido lembrada como uma resistência à Ditadura, ela também representou seu marido, o físico José Leite Lopes, falecido em 2006.

Ao final do evento, Miriam Limoeiro Cardoso, professora do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia, apresentou a conferência “A longa Ditadura”. A docente, que também foi alvo de perseguições durante o governo dos militares, resgatou dados históricos e alertou: “Alguns mecanismos repressores, como a criminalização dos movimentos sociais, por exemplo, ainda se perpetuam no Brasil”.

30 anos de sindicalismo

A Adufrj é uma das mais de 90 seções sindicais que fazem parte do Andes Sindicato Nacional, entidade que representa, em todo o território nacional, os docentes das instituições públicas e privadas de Ensino Superior.

Fundada em 26 de abril de 1979, a associação foi criada em meio a um intenso esforço das organizações e movimentos sociais e sindicais pelo restabelecimento da democracia no Brasil. A defesa da universidade pública e do caráter universalista do ensino público, em todos os níveis, faz parte das bandeiras históricas do movimento docente nacional e local.

A Adufrj está organizando mais um evento comemorativo dos seus 30 anos. É o seminário “Universidade, crise e alternativas”. O encontro, sediado no auditório Roxinho, do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), acontecerá nos dias 30 de junho, 1º e 2 de julho

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