Categorias
Memória

Especialistas discutem mídia e juventude

 “Eu nunca vi uma criança da favela abalar a cidade do Rio de Janeiro”. A afirmação é de Paulo Vaz, professor da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), referindo-se à cobertura dos jornais cariocas sobre os casos de violência contra crianças de baixa renda. Vaz participou do evento “Juventude e consumo midiático”, na quarta-feira, dia 17, no auditório do Centro Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A mesa-redonda, organizada por João Freire Filho, professor da ECO/UFRJ, também teve a presença da doutora em Ciências Sociais Gaële Rony.

Vaz e Gaële apresentaram os resultados da pesquisa comparando a visão da elite carioca sobre a violência com a versão proposta pela mídia. Para estabelecer diferenças e semelhanças, os pesquisadores entrevistaram jovens estudantes dos cursos de Direito e Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), uma das mais caras instituições particulares do Estado, a respeito da maneira como a insegurança pública afeta a vida e as decisões dos jovens.

– Os resultados apontaram para uma perspectiva bem diferente da que é exibida na televisão. Perguntados sobre a cidade, eles não ressaltavam o perigo, mas indicavam uma visão hedonista, que valorizava a beleza e o prazer de morar no Rio – disse Gaële.

Outras respostas mostraram ainda divergências a respeito da identidade da vítima. Enquanto a mídia televisiva cria a vítima virtual e classifica o criminoso, geralmente pobre e negro, como um monstro, os universitários fazem o julgamento a partir de traços do caráter.

– Hoje, diferentemente da modernidade, temos compaixão pela vítima. Ou seja, quando um caso de violência acontece, costuma-se pesar se o que aconteceu pode ocorrer com qualquer um, se pode acontecer novamente ou mesmo se poderia não acontecer. Para avaliar os autores desses crimes, jovens se guiam em questões subjetivas como honestidade, perseverança – comentou Vaz.

Para o pesquisador, a proximidade virtual estabelecida pela televisão leva alguns casos a ganhar mais destaque no noticiário. Segundo ele, uma criança moradora de comunidade dificilmente comoveria tanto o país quanto uma pertencente à classe média.

O consumo

Também participaram da mesa de abertura Rose de Melo Rocha, coordenadora-adjunta do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/SP), e Vicki Mayer autora do livro Producing Dreams, Consuming Youth: Mexican Americans and Mass Media. A escritora passou dois anos e meio em Santo Antônio, nos Estados Unidos, onde metade dos habitantes é de origem mexicana. Nessa experiência, que começou em 1997, ela conviveu com 12 jovens, que viviam o “latino boom”, valorização de tudo o que era de origem latina.

A ideia da pesquisadora era compreender como eles entendiam o material midiático produzido por americanos com esta temática, desde comerciais às famosas telenovelas. Vicki descobriu que muitos detestavam o que era exibido na televisão.

– Ainda há grande preconceito quanto à mídia latina. As gerações mais recentes sequer veem telenovela, que é a típica programação mexicana. Mesmo a primeira geração de imigrantes mantém uma visão distante do país – garantiu ela.

A conclusão do estudo foi o dinamismo das relações de consumo. Para Vicki, a mídia seria um grande refletor das relações de poder e, consequentemente, da divisão em raças, gênero e capital de cultura.