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Desenvolvimento: palavra-chave do pensamento econômico brasileiro

O Seminário de Pesquisa 2009 do Instituto de Economia (IE) da UFRJ recebeu na terça-feira, dia 26 de maio, a professora Maria Mello de Malta para a palestra “Ecos do desenvolvimento: para construir a história do pensamento econômico brasileiro recente”, na qual foi apresentada uma versão preliminar do projeto, de mesmo nome, do Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA). O trabalho, desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se propõe a historiografar o pensamento econômico nacional a partir da análise de sua história no período de 1964 a 1989. Segundo Maria, o tema do desenvolvimento é o elemento organizador do pensamento econômico brasileiro e a atual tendência de retomar as ideias desenvolvimentistas mostraria que é chegada a hora de dar início a um projeto de sistematização desse pensamento.

O estudo toma como referência os autores Bielschowsky, de linha schumpeteriana, e Guido Mantega, economista de tradição marxista e atual ministro da Fazenda. Segundo Maria, a utilização desses estudiosos se deu porque ambos identificam o desenvolvimento e o subdesenvolvimento como fundamentais para o debate econômico brasileiro. No entanto, a pesquisa não pretende dar continuidade aos trabalhos desses economistas, mas apenas utilizá-los como base crítica.

Em seu trabalho, Maria rompe com a visão tradicional de História do Pensamento Econômico (HPE) schumpteriana que enxerga o pensamento econômico como evolutivo e linear. Segundo ela, as teorias econômicas não são superadas a cada debate, não havendo acumulação progressiva de conhecimento ao longo do tempo. “A HPE se organiza por contradição, sempre há disputa por um ponto de vista teórico ou prático”, explicou a professora.

— Há modelos em disputa. Nesse sentido recuperar o passado é essencial, porque não necessariamente o “vencedor” de um debate é o melhor — defendeu a professora. Ela acredita que as contribuições científicas nascem do debate e das controvérsias; portanto, em seu trabalho, Maria busca as principais discussões que marcaram o pensamento econômico brasileiro pós-64.

A professora destacou cinco temas que norteavam o debate econômico da época: a distribuição de renda, a estagnação, o subdesenvolvimento, a inflação e a crise. O debate em torno da distribuição de renda teria sido sustentado nas discussões de modelos baseados na equação de Cambridge e na teoria do capital humano. A discussão do subdesenvolvimento teria se dividido entre os que acreditavam na noção de Celso Furtado, segundo a qual o subdesenvolvimento indicaria uma dualidade estrutural da economia brasileira, e aqueles que defendiam que o subdesenvolvimento poderia ser superado através de uma reforma do sistema capitalista.

Já a inflação foi um tema que atingiu seu auge nos anos 1980, quando se travou o debate entre monetaristas e estruturalistas. E por fim, a temática da crise, também da década de 80, teria suscitado o progresso técnico como elemento fundamental para se chegar a uma saída.

— Mapear as controvérsias do pensamento econômico desse período nos permite retomar o debate sobre o desenvolvimento. Com esse material, podemos traçar as influências do debate antigo com o atual para, depois, estabelecer uma proposta de inserção do Brasil no cenário internacional.