Categorias
Memória

Defensora critica política de segurança do governo

 A defensora criminal Maria Ignes Kato responsabilizou na quarta, dia 27/05, o governo do Estado e as milícias pelas mortes de moradores de comunidades. De acordo com ela, muitos crimes não chegam a julgamento porque os infratores são assassinados.

– A política pública desse governo é de extermínio, de guerra. Eles matam, depois dizem que foi “auto de resistência” (legítima defesa). Porém, sempre aparecem corpos de pessoas baleadas pelas costas – disse a defensora aos participantes do curso de extensão “Direitos Humanos em Tela”, organizado pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da UFRJ (NEPP). O evento foi realizado no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), localizado no campus Praia Vermelha da UFRJ.

Kato alertou ainda para a dificuldade de lidar com o Sistema Judiciário brasileiro. Segundo ela, a estrutura do Poder Judiciário, como a da própria sociedade, baseia-se na divisão de classes, o que faz com que grande parte da população carcerária apresente o mesmo estereótipo.

– Eu desafio todos aqui presentes a visitar o complexo penitenciário de Bangu. De 100 presos, vocês não encontrarão dez que não pertençam à mesma classe social. Provavelmente, todos se vestirão da mesma maneira, falarão do mesmo jeito e muitos serão moradores do mesmo bairro – garantiu.

As declarações da defensora foram feitas logo após a exibição do filme Justiça. Ganhador de prêmios na Suíça e na França, o documentário foi produzido pela cineasta Maria Augusta e teve Ignes como uma de suas personagens. “Todas as cenas do filme são reais, o que é muito grave. Somente quando a gente assiste ao documentário, nos damos conta da esquizofrenia em que se encontra o Poder Judiciário”, criticou a defensora.

A convidada disse ainda não acreditar no argumento que explica a reclusão para a ressocialização. “Se fosse para se socializar, a pena deveria ser cumprida em contato com a sociedade”, concluiu a defensora.