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Historiadora aborda legado de Samuel Wainer

 “Samuel Wainer era um jornalista visceral. Ele trouxe muitas mudanças para o jornalismo: começou a valorizar o papel do repórter, adotou as fotografias nos jornais, deu crédito aos profissionais da imprensa e aumentou o salário dos jornalistas.” Esse foi um dos relatos feitos pela jornalista e historiadora Joëlle Rouchou na palestra realizada na quinta, dia 21, sobre a obra e influência de Samuel Wainer no campo jornalístico. O evento foi realizado no auditório Manuel Maurício de Albuquerque, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). 

A carreira de Samuel Wainer ficou conhecida através de sua atuação como fundador, editor-chefe e diretor do jornal Última Hora. Filho de judeus da Bessarábia radicados na capital paulista, Wainer tem uma importância inegável na história do jornalismo do Brasil, principalmente nos anos 1950, durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Repórter do grupo Diários Associados, pertencente a Assis Chateaubriand, Wainer fez uma célebre entrevista com Getúlio Vargas durante a campanha eleitoral de 1950, formando com ele uma amizade política, movida à base de interesses mútuos, resultando na criação do Última Hora. 

Segundo Joëlle Rouchou, o apoio a Getúlio Vargas fez com que o jornalista ganhasse inimigos poderosos. O maior deles foi Carlos Lacerda, que procurou impedir o direito de Wainer de dirigir o jornal com base na legislação brasileira. Sendo brasileiro naturalizado, Wainer não poderia ser proprietário de um meio de comunicação. A campanha de Lacerda contra o jornalista levou a uma longa batalha judicial que se prolongou para além do suicídio de Vargas, em 1954, e terminou com a absolvição de Wainer da acusação de falsidade ideológica.

Na época da ditadura militar, o jornalista ficou exilado em Paris e, mais tarde, o jornal foi vendido para a Folha de S. Paulo.

Identidade Judaica

A historiadora falou durante a palestra sobre a “perplexidade de Wainer diante de sua identidade judaica”. O jornalista, apesar de se definir como judeu, não conseguia explicar para os seus filhos qual era a sua origem. Um acontecimento histórico importante, relacionado a essa questão judaica, foi a cobertura do julgamento de Nuremberg (abertura dos primeiros processos contra dirigentes nazistas no período da Segunda Guerra Mundial) feita por Samuel Wainer. Ele foi o único jornalista brasileiro que cobriu o evento. Segundo a historiadora, noticiou o ocorrido de forma neutra e completa. “Sua postura se mostrou extremamente fria em relação aos carrascos nazistas”, afirma a historiadora.