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O que esperar das Ciências Biomédicas?

 Como parte das comemorações dos 40 anos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ, aconteceu na segunda (11/5) o debate “O que a sociedade espera das Ciências Biomédicas?”. O primeiro palestrante foi o professor Jorge Almeida Guimarães, presidente da Capes.

Jorge considera um desafio provocativo a indagação que deu título à palestra. “Digo de antemão que nossa sociedade quer desfrutar de um presente socialmente justo, o que só pode ser alcançado com educação, ciência e tecnologia”, declara Almeida.

O professor destacou que podem ser esperadas profundas mudanças para a saúde. “Até o fim do século, virão novos conhecimentos na área da genética, substituição de órgãos, talvez com células-tronco, novos equipamentos, novas vacinas, e até mesmo a cura de Alzheimer, câncer, diabetes e Aids”, sugere Jorge.

Ele também propôs a descoberta de alguns ferormônios que provocarão mudanças radicais em muitas sensações humanas, inclusive na esfera sexual. “Sensores especiais e a realidade virtual poderão possibilitar a realização de um novo ato sexual”, apontou.

— Como resultado do progresso e avanço tecnológico neste novo século, não haverá mais lugar para convivência de indivíduos em alto índice de analfabetismo científico. Esse é um desafio — concluiu Jorge.

Olhar o passado e imaginar o futuro

Para Luiz Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), definir o que a sociedade espera é uma tarefa impossível. “São questões que envolvem várias dimensões éticas, como o mapeamento genômico. É preciso levar à população os prós e os contras que cada avanço científico pode trazer consigo”, expõe.

Ele acredita que a produção científica brasileira alcançou um novo patamar. Segundo Luiz, o índice de publicações brasileiras na ordem mundial aumentou de 2 para 2,2 por cento. “É preciso olhar para o passado para imaginar o futuro. É necessário dar saltos em qualidade, já que se está avançando em quantidade de artigos”, constata Luiz.

— Mesmo que não se descubram muitas curas, ao entendermos relações de causa e consequência através das pesquisas, podemos facilitar a vida das pessoas. Esse é um ponto fundamental nas nossas ações dentro das Ciências Biomédicas — argumenta. — É essencial que se busque uma sociedade mais justa e uma vida com menos sofrimento. Para isso é preciso que sempre se contribua na educação — concluiu Luiz.

O que os leigos esperam?

— Enquanto Jorge fez uma previsão de futuro e Luiz fez uma crítica à ciência brasileira, que ainda tem que melhorar, eu, como médico, cirurgião, vou falar de outro aspecto: “Qual a expectativa de um leigo?” — indagou Marcos Moraes, diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), iniciando seu discurso. Ele acredita que a sociedade espera das Ciências Biomédicas uma melhor qualidade de vida e a cura de doenças, por exemplo.

No entanto, segundo Marcos, a maioria da população não possui conhecimento sobre o que exatamente é a pesquisa biomédica. Ele explicou procurando traduzir em dinheiro o que significa. Como base, utilizou o trabalho “Measuring the Gains from Medical Research” (“Mensurando os Lucros da Pesquisa Médica”), de Kevin M. Murphy e Robert H. Topel. A pesquisa buscou o valor econômico das melhoras na área da saúde.

Marcos citou o aumento da expectativa em 30 anos de vida como fruto dos investimentos na saúde. “Em 1900, 18 por cento dos homens morriam no primeiro ano de vida. Em 2000, o índice de mortalidade não atingia 18 por cento dos homens aos 68 anos. É uma inversão”, relatou. Também lembrou a redução na mortalidade infantil, que em 100 anos teve queda de 95 por cento.

Os avanços da medicina também reduziram mortes por doenças infecciosas e cardíacas. “Em 30 anos, segundo dados da pesquisa, economizaram-se 95 trilhões de dólares com o investimento americano na saúde”, exemplifica. De acordo com Marcos, a redução de doenças e da mortalidade evita prejuízos na economia, pois além de uma doença não curada custar caro, a mortalidade faz com que se tenha menos gente produzindo dentro do país.

Além das descobertas científicas, é preciso que a população também faça a sua parte. “Para se reduzir doenças crônico-degenerativas, 85 por cento do processo dependem do estilo de vida”, aponta. Marcos concluiu sua palestra citando uma frase de Mary Lasker: “Se você pensa que pesquisa custa caro, experimente doença.”