Categorias
Memória

Crise aumenta desemprego, mas nível de renda permanece estável

O impacto da crise financeira no mercado de trabalho foi o tema abordado na sexta, dia 15, em mais uma edição do ciclo de debates promovido pelo Instituto de Economia (IE/UFRJ). A discussão, realizada no Salão Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura, no campus da Praia Vermelha, teve a participação de João Saboia, diretor do IE/UFRJ, e Claudio Salm, professor aposentado do Instituto.

Depois de apresentar um ciclo virtuoso no período 2004-2008, o mercado de trabalho apresenta desde o último trimestre do ano passado uma realidade distinta. Segundo Saboia, os dados mostram uma forte tendência de crescimento do desemprego em 2009. Esse cenário pode melhorar no 2º semestre, afirma o professor, em virtude de “efeitos sazonais” na economia.

A indústria, observa Saboia, é um dos setores mais atingidos pela crise. Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) mostram ligeira recuperação do setor em março último em comparação ao mês anterior. Especialmente os índices relativos aos bens de consumo duráveis foram favorecidos por algumas medidas adotadas pelo governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Já em relação aos bens de capital, não houve melhora.

Rendimento

O diretor do IE/UFRJ apresentou também alguns indicadores da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) feita em seis das principais regiões metropolitanas do país. A taxa de desocupação atingiu um índice de 9% em março deste ano contra 8,6% no mesmo período de 2008. O índice mais baixo da taxa de desocupação (6,8%) foi verificado em dezembro do ano passado.

Neste cenário de crise econômica, um indicador favorável diz respeito ao rendimento médio real da população ocupada. O rendimento foi de R$ 1.321,40 em março último, superior aos R$ 1.258,59, média apresentada em igual período de 2008. Os números demonstram, segundo Saboia, uma estabilidade no nível de renda, apesar da estagnação do mercado de trabalho. “O nível de renda continua satisfatório, mas é provável que não se mantenha nos próximos meses”, analisa o economista.

Os dados apresentados durante o ciclo de debates revelam ainda que foram gerados, aproximadamente, 1,4 milhões de empregos no setor formal no ano passado, número menor se comparado a 2007, quando entraram no mercado 1,6 milhões novos trabalhadores. No entanto, o indicador manteve os mesmos níveis de 2004, por exemplo, período em que houve recuperação na economia brasileira.

“O grande problema está na indústria de transformação”, salienta o professor. Houve, segundo ele, queda brutal neste setor no acumulado de janeiro a março deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Uma das consequências dessa redução, conclui Saboia, é o aumento da informalidade, cujos índices vinham caindo nos últimos anos.

Alternativas 

O professor Cláudio Salm comentou alguns resultados da pesquisa apresentada pelo diretor do IE/UFRJ e os reflexos da crise internacional na economia brasileira. Segundo ele, apesar dos sinais de recuperação no início de 2009, o crescimento ainda está muito aquém do “tombo” que a economia do país sofreu no ano passado.

Salm concorda que o Brasil está mais preparado do que outras nações para reagir à crise. Os fatores favoráveis incluem o acúmulo de reservas, a redução da dívida externa e a solidez do sistema bancário, dentre outros. Ressalta, no entanto, que as dificuldades teriam sido menores se o governo tivesse adotado algumas medidas preventivas. O economista citou, por exemplo, a necessidade de uma política fiscal ostensiva e aumento dos investimentos públicos para a retomada do crescimento. “As taxas básicas de juros permanecem altas, muito superiores ao recomendado”, afirmou. Quanto aos investimentos públicos, apontou como obstáculos o aumento dos gastos correntes e a queda na arrecadação.