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Instituto de Psiquiatria debate disfunção executiva na prática clínica

O Instituto de Psiquiatria da UFRJ realizou na última sexta-feira, dia 8, mais uma sessão do Centro de Estudos com a palestra “Disfunção executiva na prática clínica: Estudo de três casos de etiologia diversa”. A apresentação foi feita por Paulo Mattos, coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) do Instituto de Psiquiatria, e pelo neuropsicólogo Gabriel Coutinho.

Os palestrantes iniciaram o evento explicando o que é função executiva. Segundo Gabriel, a versão mais clássica define a função como um “conjunto de habilidades que permitem o desempenho de funções voluntárias orientadas para metas. São as funções que gerenciam nosso cérebro e são responsáveis por ações como focalizar, integrar etc. É como um maestro numa orquestra, ele precisa organizar tudo”.

O neuropsicólogo explicou ainda que, quando uma pessoa possui as funções executivas em funcionamento perfeito, ela antecipa as consequências de seus atos. Como exemplo, citou a experiência de estudar para uma prova. Uma pessoa “normal” sabe programar seus horários e está consciente de que será preciso desmarcar compromissos e assistir a todas as aulas. Porém, quando há algum problema nas funções executivas, a pessoa não consegue antecipar suas ações e faz tudo de “improviso”.

As condições clínicas que se relacionam às falhas nas funções executivas e à falta de organização são: Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), o retardo mental, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dentre outras.

Testes nos pacientes

Paulo Mattos mostrou diversos testes que são usados para a identificação das doenças. Muitos são ineficazes no diagnóstico preciso do problema de saúde do paciente, o que faz com que a UFRJ e outras instituições estejam sempre em busca de métodos novos.

Em um dos testes apresentados, os pacientes deveriam ir a um shopping comprar alguns itens (sabão, tomate) e obter algumas informações sobre as mercadorias compradas, como o preço dos produtos. Depois deveriam se encontrar em um lugar previamente estabelecido pelos médicos.

Um dos pacientes não comprou sabão porque não encontrou sua marca favorita, o que demonstra um caráter inflexível. O segundo paciente ficou procurando os itens na área externa do shopping e o terceiro foi perseguido por um vendedor por deixar de pagar uma mercadoria.

Esse teste demonstra que as funções executivas das pessoas que participaram da atividade não estavam em perfeitas condições. Segundo os palestrantes, havia clara disfunção nos três pacientes.

Estudo de casos

Gabriel Coutinho apresentou o estudo de três casos clínicos com problemas distintos. No primeiro, um paciente de 29 anos apresentava sobreposição de disfunções executivas. Um traumatismo craniano provocara mudanças em seu comportamento, tornando-o desinibido, desatento e um pouco mais agressivo. Apesar de várias funções estarem preservadas, a destreza motora e a flexibilidade cognitiva ficaram comprometidas.

O segundo caso abordava a disfunção executiva do desenvolvimento em uma paciente do sexo feminino, de 34 anos. Ela foi encaminhada aos médicos por suas dificuldades acadêmicas de “longa data”. A paciente já tinha passado por uma gravidez inesperada e contraído doenças sexualmente transmissíveis, o que, segundo os palestrantes, dava a sua personalidade um caráter “impulsivo”. As principais áreas comprometidas eram a memória operacional, os cálculos mentais e a atenção generalizada.

Já o terceiro caso abordava uma disfunção executiva adquirida (pós-traumatismo crânio-encefálico). Uma estudante de medicina de 19 anos passou por várias neurocirurgias e começou a ter falhas de memória, isolamento social e labilidade de humor. Sua atenção sustentada e sua aquisição de material auditivo-verbal ficaram comprometidas.