Pensando no trinômio “Comunicação, Música e Desenvolvimento Local”, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Comunicação (NEPCOM) da UFRJ organizou, no dia 3 de abril, uma mesa-redonda baseada no tema “Balanço da Reestruturação da Indústria da Música”. Os convidados partem, basicamente, do princípio de que é preciso criar um canal mais amplo de divulgação e relação com a sociedade e uma visão mais crítica acerca das consequências do desenvolvimento de novas tecnologias.
O professor Luiz Albornaz, da Universidade Carlos III de Madrid, discursou sobre as transformações da indústria musical na era digital. “O importante é analisar as mudanças que vêm acontecendo no mundo musical por conta da intervenção digital”, alega. Seu pensamento gira em torno, principalmente, da distribuição massiva de suportes musicais, inserida em um modelo comercial e jurídico.
A diferença gerada pelo mundo digital seria explicitada pela maior distribuição online e por um aperfeiçoamento dos terminais móveis. Em contrapartida, surgem reações a essas novas dinâmicas, tais como as sociedades de gestão de direitos autorais – que passam a crescer dentro desse contexto – e a luta contra a pirataria. Na Espanha, ele explicita, há maior atuação do Estado no combate a essas novas práticas alternativas, visando à proteção dos direitos do autor. “Hoje, na Espanha, ao comprar qualquer dispositivo ou suporte de reprodução, deve-se pagar uma ’taxa digital’ – uma ação contra a perda econômica da indústria digital.”
Como resultado, o professor garante que aparecem transformações no consumo musical. Tenta-se, como solução, incentivar a música ao vivo e a realização de festivais internacionais (como o Rock’n Rio) que acabam virando referência para o marketing também.
As tendências alternativas, o caso do “Tecnobrega”
Oona Castro, do Instituto Overmundo, pesquisa as novas tendências musicais que surgem pelo Brasil e pelo mundo. Além do “funk”, característico do Rio de Janeiro; do “Chambeta”, da Colômbia; da “Villera”, da Argentina, figura nessa lista o “Tecnobrega”, fenômeno oriundo de Belém.
Essa nova manifestação artística, típica do Norte e Nordeste do Brasil, não se encaixa na indústria cultural tradicional, mas é significantemente popular na região. A pesquisadora salienta, inclusive, que a partir dos shows e dos camelôs é que eles conseguem lucrar mais com a venda de CDs. É possível perceber que se trata de um novo tipo de referência musical e artística. A banda Calypso, nacionalmente conhecida, é um exemplo dessa tendência.
– É preciso estar atento às relações pessoais singulares que caracterizam esse mercado. Se fosse em mercados formais, por exemplo, esse modelo não daria certo – a convidada explica. Não se pode, contudo, classificá-lo como um mercado de cultura de massa ou uma cultura de resistência, pelo fato de os músicos e organizadores não terem uma intenção política. Seria apenas um mercado de bens culturais diferenciados e um exemplo de desenvolvimento local, cultural e econômico.
As inovações da Lapa
Pensou-se também, durante o evento, sobre o que acontece na Lapa, no Rio de Janeiro. Micael Herschmann, professor pós-doutor, expõe suas análises em torno do tema “Circuito musical/cultural da Lapa em um contexto de reestruturação da Indústria Musical”, baseado em pesquisa que faz desde o ano de 2004. Para o professor, é preciso ter em mente o caráter da música como laboratório. E o bairro apresenta-se como território de competição de novos produtos culturais, proporcionando a formação de um polo cultural, histórico e gastronômico a partir do Novo Rio Antigo. “A Lapa é vista como um parque temático agora, onde são realizados mais shows”, conclui.
Os convidados concordam quanto à necessidade do debate consciente para o fomento na cultura local. Os músicos deparam-se cada vez mais com alternativas de maior distribuição e reconhecimento de seu trabalho, cabendo a eles usar esses artifícios da melhor forma possível.