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UFRJ inicia Seminário internacional sobre Mídia e Violência

“A relação entre mídia e violência é muito complexa e precisa ser discutida principalmente dentro de uma escola de comunicação.” Com essa frase Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO), abriu os trabalhos do Seminário Internacional sobre Mídia e Violência iniciado nessa quinta-feira (26/03), na Praia Vermelha.

Ivana agradeceu a ajuda dos alunos da universidade e a participação dos consulados dos Estados Unidos e Canadá no seminário. Nigel Neale, cônsul do Canadá, fez uma breve apresentação e falou sobre a importância da defesa dos direitos humanos e da não-aceitação da impunidade. O gerente do programa comercial do consulado geral do Canadá no Rio de Janeiro agradeceu o convite feito pela ECO e pelo setor de extensão da UFRJ.

Erik Holm-Olsen, cônsul dos Estados Unidos, revelou: “É uma grande honra participar deste evento. É muito importante fomentar este debate como forma de enriquecer o nosso conhecimento. Este seminário vai além da abordagem das questões das organizações criminosas. Ele discute as informações que recebemos. Temos que falar também sobre a segurança daqueles que põem a vida em risco para que uma história seja contada.”

Construindo notícias

A primeira mesa de debate teve como participantes Michel Labrecque (jornalista da Radio-Canadá), Paulo Vaz (professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação), Steven Salisbury (jornalista freelancer – New York Times/Wall Street Journal, EUA) e Fernando Molica (jornalista do jornal O Dia). Os palestrantes discutiram a questão da mídia noticiosa e sua relação com a violência.

Fernando Molica abordou a evolução da reportagem durante as últimas cinco décadas. “A violência permeia o dia a dia do Rio de Janeiro. Na verdade, O Brasil é um país muito violento e essa violência tem grande impacto na economia. Mas como o jornalismo mostra essa violência? Será que ele atende a população? Nos anos 50, a sociedade se via de forma mais equilibrada e harmônica, o crime era um elemento externo a ela. Os jornais atuavam nessa direção, combatiam um caso específico, queriam que o bandido que estivesse perturbando essa harmonia fosse preso ou morto. Com o tempo, o crime foi se tornando mais complexo e foi necessário um novo tipo de abordagem. Bom, houve melhora qualitativa nas informações dos jornais, principalmente porque agora essas informações não vêm só da polícia. Porém, ainda é necessário que se fale da segurança pública, que se cobre uma redução da criminalidade. Os jornais precisam oferecer um produto mais contextualizado e menos vulnerável a soluções rápidas.”

O jornalista da Rádio-Canadá afirmou que “o Brasil é um país maravilhoso, mas tem muitos problemas. Os jornalistas brasileiros trabalham em um ambiente muito mais difícil do que o nosso. Eu mesmo já tive que cancelar compromissos e coberturas por causa da violência nas favelas. De que forma tratamos o processo da violência no jornalismo? Eu acho que falamos demais dos pontos negativos e nunca escrevemos sobre as coisas boas dos lugares. Muitas pessoas acham que não há violência no Canadá. Há sim, mas o índice de criminalidade é pelo menos dez vezes menor do que o do Brasil. Eu espero que esse índice fique menor aqui”.

Segundo o jornalista, no Canadá, os grupos de polícia comunitária e o controle das armas fizeram com que a violência diminuísse muito nesses últimos quarenta anos. “Porém, há muito sensacionalismo na mídia canadense. Para eles, todo muçulmano é terrorista, todo imigrante é violento. Isso vende mais jornal, mas é um ponto negativo. A mídia deveria atender os ativistas e as comunidades. A violência existe por discriminação, exclusão e pobreza”, enfatiza Michel Labrecque.

O Seminário Internacional continua com sua programação até o dia 27/03. Para mais informações, consulte o site: http://seminariomidiaeviolencia.blogspot.com/.