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Os diálogos e os monólogos no cinema moderno

 O Programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ realizou sua aula inaugural na última terça, dia 17, com Ivone Margulies, professora do Departamento Film and Media Studies da Hunter College, de Nova Iorque. Na palestra, intitulada “Do Silêncio do Mar ao Cinema Falado: monólogo e teatralidade no cinema moderno”, Ivone problematizou o gênero híbrido entre o ensaio e o drama, a partir da análise de filmes como “Sócrates”, de Rosselini, “Encontros com Ana”, de Chantal Akerman, “O Silêncio do Mar”, de Pierre Boutron, e “Crônica de Um Verão”, de Jean Rouch e Edgar Morin.

Com um breve panorama de filmes que apresentam diálogos e monólogos, Ivone Margulies questionou a existência de um novo tipo de cinema de idéias, caracterizado por elementos de gêneros teatrais. A teatralidade apresentada por esse cinema aparece nos elementos de intersecção com o gênero dramático, no qual a história é construída pelas falas dos personagens. “Sócrates”, dentre os citados, é o filme que melhor exemplifica essa relação, além de sua estética.

Segundo Ivone, monólogos e longos diálogos são os pontos de partida para avaliar a função oratória no cinema moderno. O documentário “Crônica de um Verão”, de 1960, por exemplo, possibilita uma dissertação sobre a própria existência do interrogado sobre seu modo de vida e sobre sua felicidade. Nele, o sociólogo Edgar Morin e Jean Rouch apresentam personagens que evoluem a protagonistas após se exporem como representantes das problemáticas sociais por meio de suas falas que não escondem a veracidade do tédio, da solidão, do desespero. O filme também funciona como um ensaio.

Sobre “Um Filme Falado”, do português Manoel de Oliveira, a sabedoria da fala rege as ações. Também de um cinema mais recente, em “Encontros com Ana”, da cineasta belga Chantal Akerman, os diálogos são o próprio discurso do filme ao tomar como eixo central a crítica com conteúdo histórico em relação à temática do Pós-Segunda Guerra Mundial. Já em “O Silêncio do Mar”, de 2004, os monólogos não fazem parte do discurso do filme, afirma Ivone Margulies, que enfatizou a posição do monólogo na atualidade: “O filme oferece uma imagem quintessencial do monólogo seriado do cinema moderno”, diz.