Foi iniciado hoje pela manhã o II Curso de Verão em Farmacologia. O encontro de duas semanas é uma iniciativa do Programa de Pós Graduação em Farmacologia e Química Medicinal e, já na abertura, lotou o auditório do Departamento. Entre os inscritos estão professores e pesquisadores, além de 15 alunos, selecionados de uma lista de cerca de 150 nomes. Para Rosane Vianna Jorge, professora integrante da comissão organizadora, a alta procura é gratificante e demonstra o interesse despertado nos estudantes.
— Espero que possamos repetir o sucesso do ano passado. Acredito que a procura dos estudantes já indica isso. Além do interesse, esses alunos apresentam alto nível acadêmico, com participação em laboratórios e congressos. Devo dizer que foi difícil selecionar apenas 15 — informou a professora durante a abertura do evento.
De acordo com Rosane, entre os objetivos do seminário, destacam-se a divulgação científica e também apresentação do Programa, para que aqueles que se interessem pela pós-graduação saibam como ocorre o trabalho no Departamento.
A conferência
Professor titular da Faculdade de Farmácia da UFRJ, Eliezer Jesus de Lacerda Barreiro foi o responsável pela primeira palestra do dia. Experiente em Química Medicinal, Barreiro escolheu falar um pouco sobre as possibilidades e os desafios do diálogo entre áreas que se completam: a Farmacologia e a Química Medicinal.
Juntos, profissionais dos dois campos caminham em busca das chamadas moléculas inteligentes, os fármacos, que dão origem aos medicamentos. O professor chamou a parceria de “casamento bem-sucedido”, mas relembrou as origens das pesquisas com essas substâncias, na época em que a chamada interdisciplinaridade ainda não era conceito chave para a ciência.
Um pouco de história
O marco zero da aplicação de moléculas sintéticas na terapêutica é ainda hoje empregado em diversos medicamentos. Trata-se do ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina), descoberto no fim do século XIX por Felix Hoffman. “O AAS representa, historicamente, o tempo zero dos fármacos utilizados no setor industrial. A substância foi inspirada em uma outra, natural, foi ‘domesticada’”, explicou Eliezer.
Durante esse tempo, algumas mentes colaboraram para que se entendesse melhor e mais profundamente como funcionam esses mecanismos. Eliezer Barreiro reservou um tempo de sua palestra para relembrar os feitos de nomes como Louis Pasteur e Paul Ehrlich, ganhador do prêmio Nobel. O professor destacou também o cientista Emil Fischer, que concebeu o modelo chave-fechadura, que, no que diz respeito às interações entre macro e micromoléculas, “norteou o conhecimento ao longo de todo o século XX”, nas palavras do palestrante.
Ainda na lista dos ganhadores do Nobel, o professor ressaltou a importância de um trio de cientistas, responsáveis pela descoberta da penicilina, em etapas distintas: Alexander Fleming, Howard Florey e Ernest Chain. Para Eliezer Barreiro, a molécula merece receber o adjetivo de “salva-vidas”, já que foi responsável pelo aumento da expectativa e qualidade de vida, garantindo a base para as terapias com antibióticos.
A interdisciplinaridade
A descoberta da penicilina, entretanto, foi marcada por um hiato de quase 15 anos. Foi o tempo necessário para que químicos medicinais percebessem a importância da substância e viabilizassem o acesso para a terapêutica. “Nesse período, muitas pessoas deixaram de se beneficiar, por causa dessa falta de diálogo efetivo e pela ausência da interdisciplinaridade”, comentou o professor.
Para Barreiro, é necessário equalizar as linguagens dos mundos da Química e da Biologia. “Um diálogo entre esses dois mundos é fundamental para que a humanidade tenha acesso aos frutos das pesquisas, de maneira efetiva”, afirmou. “Químicos são capazes de fazer várias moléculas, mas sem as avaliações biológicas necessárias, vão adormecer para sempre nas bancadas dos laboratórios, como já aconteceu com tantas”, exemplificou o professor, lembrando que a recíproca é verdadeira: é também fundamental que biólogos entendam a linguagem dos químicos.
Ele admitiu que a tarefa não é fácil, mas é necessária. O professor demonstrou, satisfeito, os cerca de 9300 resultados para uma busca on-line por páginas que associem os termos “Pharmacology” e “Medical Chemistry” (em inglês e respectivamente, Farmacologia e Química Medicinal). “Isso mostra que esse casamento já se consolidou. Saímos da fase do namoro e ingressamos na concepção óbvia dessa interdisciplinaridade”, afirmou.
Programação
O II Curso de Verão em Farmacologia tem prosseguimento durante as próximas duas semanas, com término programado para 13 de fevereiro, quando Radovan Borojevic, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, apresenta sua conferência sobre o uso terapêutico das células tronco e os desafios envolvidos. As atividades ocorrem no auditório de Farmacologia, que fica na sala J1-004, do Centro de Ciências da Saúde.