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Estudo revela traços em comum na evolução do homem e de outros primatas

A construção e estrutura do cérebro do homem seguem as mesmas regras aplicadas a outros animais da natureza. A superioridade cognitiva humana se explica pelo fato de o homem ser um primata, com mais habilidades do que os roedores, por exemplo, possuir, dentro da sua espécie, o maior cérebro e, com isso, maior quantidade de neurônios. É o que demonstra um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que será publicado na próxima semana, sob a coordenação de Suzana Herculano-Houzel, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e outros pesquisadores. Parte desse trabalho foi divulgada nesta quarta-feira (11/02) em sua palestra “E se formos apenas grandes primatas?”, na Casa da Ciência, encerrando o ciclo de debates da exposição “Paisagens neuronais”.

Segundo Suzana, que atua também como apresentadora e roteirista da série Neurológica, da Rede Globo de Televisão, o estudo confirma a tese de que somos primatas até na estrutura do cérebro. “O nosso cérebro tem o tamanho esperado de um primata do nosso porte e tem exatamente o número de neurônios que se espera de um cérebro desse tamanho. Não somos especiais. E por que deveríamos ser? Se a evolução se aplica a todos, nada mais natural o ser humano ser apenas mais uma espécie que segue as mesmas regras de outros animais. O que se aplica a outros animais também vale para o homem em matéria de construção de cérebro”, afirma a pesquisadora.

O trabalho ajuda a desmistificar algumas concepções sobre o que diferencia o homem de outros animais, como o tamanho absoluto ou relativo do cérebro ou as dobras do córtex. Segundo Suzana, se o critério fosse o tamanho absoluto, os cetáceos levariam vantagem, pois chegam a possuir um cérebro de até nove quilos contra 1.450 gramas do cérebro humano. Ela lembra ainda que os golfinhos apresentam também um número maior de dobras no córtex em comparação ao ser humano.

Para identificar a particularidade do potencial cognitivo do homem, os pesquisadores buscaram verificar aproximações e distanciamentos das regras celulares de construção de cérebros de tamanhos diferentes em roedores e primatas. O primeiro trabalho, como explica Suzana, foi contar as células. Para isso, os cientistas desenvolveram um método de transformar o cérebro em uma suspensão homogênea, processo identificado como fracionador isotrópico.

A pesquisa revelou que, entre os roedores, a capivara tem 23 vezes o número de neurônios de um camundongo. Como o homem possui mais de 85 bilhões de neurônios, Suzana calculou que um roedor precisaria ter um cérebro de 45 quilos em um corpo de 109 toneladas para apresentar um quadro cognitivo semelhante ao do ser humano. Nos primatas, ao contrário, o cérebro teve crescimento isométrico, ou seja, um crescimento linear do tamanho do cérebro e da quantidade de neurônios. Os primatas apresentam assim, segundo Suzana, “mais neurônios com o mesmo tamanho do cérebro” numa comparação com os roedores, o que explica habilidades superiores do primeiro em relação ao segundo.

“Partimos da premissa que o número de neurônios é o diferencial. A nossa vantagem é, em primeiro lugar, sermos primatas e, dentre os primatas, termos o maior cérebro, reunindo, portanto, maior número de neurônios”, conclui a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.