O Laboratório Sonda, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, vai ganhar um reforço a partir de 2009. Trata-se de um analisador automático de DNA, que promete fazer o trabalho no Sonda ser mais rápido e preciso. A previsão é de que o novo equipamento chegue ainda neste mês, de acordo com o coordenador do laboratório, Franklin Rumjanek, professor do IBqM.
Entre outras melhorias, o analisador vai garantir a otimização da técnica de genotipagem, usada com freqüência na resolução de crimes, ao determinar o genótipo presente em uma evidência, chegando à identidade do criminoso. Até o momento, o processo é feito de maneira demorada e é passível de erro. “O aparelho vai substituir o trabalho manual e realizar o processo por meio de um capilar finíssimo, que torna os resultados mais precisos”, explica o professor.
Com a chegada do equipamento, o resultado pode ser alcançado em minutos, em vez das três horas que a técnica manual demora a obter as informações. “Esse rápido processo já dá as informações necessárias para a genotipagem para paternidade e identidade, que podem auxiliar a descobrir crimes”, afirma Franklin. O DNA do suspeito pode ser obtido em objetos simples, como uma ponta de cigarro ou um pedaço de papel.
Seqüenciamento: por dentro do DNA
De acordo com o pesquisador, a chegada do analisador também vai ser fundamental para garantir o seqüenciamento de DNA. Esse é o processo que define todos os detalhes de uma cadeia de DNA, isto é, a ordem em que se encontram os nucleotídeos que compõem a estrutura: adenina, timina, citosina e guanina. Segundo o professor, seqüenciar o DNA é tarefa elementar para quem quiser saber mais sobre genética, aplicada tanto a terapêutica quanto a pesquisa básica.
A maior parte dos laboratórios que lidam com biologia molecular e genética depende desse tipo de informação, de acordo com Franklin. Sem o equipamento necessário, o pesquisador se vê obrigado a recorrer aos mais diversos meios para conseguir os dados. No caso do laboratório Sonda, as amostras eram enviadas para a Coréia e retornavam depois de uma semana, o que representava um entrave para as pesquisas que funcionam no laboratório. “Além disso, há o problema burocrático. Quem quiser mandar DNA para fora do país precisa satisfazer a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e mais uma série de outras agências reguladoras que controlam esse tipo de material. Isso envolve uma burocracia muito complicada que também atrasa a vida do pesquisador”, relata Franklin.
Custos
O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj); o aparelho custou mais de 92 mil dólares. Segundo Rumjanek, o preço não é dos mais caros entre os equipamentos de pesquisa científica, mas, evidentemente, o apoio da agência foi fundamental para a consolidação do projeto. “A idéia que parece ter feito diferença para a Faperj foi o fato de que se trata de um aparelho multiusuário. Ou seja, ele não vai servir só ao nosso laboratório, mas a vários”, conta o professor, que deve viabilizar o acesso para colegas do Instituto que queiram analisar as amostras no laboratório.
Além da aplicação nas linhas de pesquisa, o grupo pretende abrir o acesso do aparelho à comunidade, a todos que precisem obter esse tipo de informação. Seria um serviço pago, porém reinvestido na área de pesquisa do laboratório. “A chegada do aparelho deve afetar positivamente, portanto, não só nosso laboratório, como vários outros que precisam desse serviço. A idéia é que a gente mantenha as pesquisas em andamento e que eles não fiquem à mercê de flutuações econômicas”, afirma Franklin.
Funcionalidade
Apesar de automático, o analisador ainda exige a operação humana em parte do processo. Para isso, Concy Caldeira, médica e pesquisadora da UFRJ, atua junto a Franklin Rumjanek na implantação do novo equipamento e deve passar por um curso oferecido pela empresa fabricante do aparelho, para garantir a operação segura e eficaz durante as análises. “Está programado um curso em São Paulo, onde eles têm uma central que treina os pesquisadores para esse tipo de tecnologia. O aparelho está a caminho e o curso só acontece quando o aparelho chega aqui e é instalado”, explica Franklin.
Segundo Concy, quando o aparelho chegar, os exames de paternidade, por exemplo, devem sair bem mais rápido: o tempo de espera será reduzido de 30 para 15 dias, aproximadamente. “Apesar disso, o curso não vai atrasar muito a colocação do aparelho em uso. Se nenhum entrave burocrático acontecer, esperamos que a operação seja iniciada no começo do ano”, prevê Franklin Rumjanek.