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Sexo seguro não tem idade

 No dia mundial de luta contra a AIDS, comemorado na última segunda-feira (1º de dezembro), os índices de mortalidade pela doença ainda preocupam. Nas últimas décadas, no entanto, o aumento da incidência de HIV, especialmente em um grupo, tem chamado a atenção no Brasil. Somente no período de 1996 a 2006, o número de idosos portadores do vírus saltou de 7,5 por mil habitantes para 15,7. Motivada pela falta de informações e pelo preconceito que cerca o tema, a psicóloga Marlene Zornitta, do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), desenvolveu um estudo com o objetivo de investigar as causas para esse aumento.

— Uma parte desses idosos havia se contaminado antes dos 40 anos, mas conseguiu sobreviver graças aos anti-retrovirais que começaram a ser distribuídos em 1997. Outros, no entanto, ficaram sabendo recentemente que estavam contaminados. Foi este grupo que me mobilizou a desenvolver o estudo, justamente devido ao preconceito não apenas em relação à velhice, como também por terem uma sexualidade ativa e serem portadores do HVI — revela a psicóloga.

Orientada pelo professor José Luiz Telles, coordenador da Área Técnica Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Marlene acompanhou, durante dois anos, um grupo focal composto por sete pacientes HIV positivos, de idade entre 60 e 87 anos, em tratamento no ambulatório do serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do HUCFF. Por meio de um debate, a pesquisadora pode perceber que existe resistência das pessoas em aceitar o sexo na terceira idade.

— Perguntei, individualmente, a opinião de cada um sobre a importância da vida sexual, já que percebi no grupo certa timidez para falar sobre o assunto, principalmente entre as mulheres. Nas entrevistas, identifiquei que os próprios colegas censuram e acreditam que é uma doença pensar em sexo depois de uma determinada idade — observa.

Idoso: o principal agente da mudança

Entre os principais fatores que levaram ao aumento da incidência de AIDS e doenças sexualmente transmissíveis na terceira idade, Marlene destaca a falta de campanhas de esclarecimento voltadas especificamente para esse grupo, a dificuldade dos profissionais da área de saúde em investigar a vida sexual do idoso, a resistência dos mais velhos em usar preservativo e o preconceito geral da sociedade que inviabiliza o debate sobre o assunto.

— O desenvolvimento de medicações que prorrogam a vida sexual não foi acompanhado de instruções e informações alertando às pessoas que isso também as colocaria mais próximas do vírus, já que, com o aumento dos relacionamentos, mais expostas estavam. Além disso, pessoas mais velhas têm mais dificuldades para mudanças de hábitos. Existe, portanto, a necessidade de introduzir o uso do preservativo na vida dos idosos — alerta.

Segundo a psicóloga, campanhas de esclarecimento voltadas para a terceira idade ajudariam na conscientização e na redução do preconceito que envolve o assunto. Para isso, contudo, é fundamental que os idosos se tornem os próprios agentes da mudança.

— Trabalhando interativamente, será possível fornecer condições para que esses idosos digam quais são as dificuldades que enfrentam e como isso deve ser tratado. É um trabalho interativo, porque as instituições fornecem essa liberdade e eles devolvem com informações, tornando-se agentes dessa mudança.

Este ano, a campanha do Ministério da Saúde para o Dia Mundial de Combate a AIDS teve como alvo homens com mais de 50 anos. O objetivo é alertar a população e, principalmente, os idosos dos riscos decorrentes da contaminação pelo vírus. Afinal, como diz o slogan da campanha, “Sexo não tem idade, proteção também não”.