Teve início ontem, dia 25 de novembro, o I Simpósio de Estudos Contemporâneos (SIMPEC) – Identidades e Conflitos: África e Oriente Médio, organizado em conjunto pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e UFRJ com o objetivo de abrir um espaço para discussão desta temática através da apresentação de trabalhos de pesquisadores de diferentes universidades do Rio de Janeiro.
Na abertura do evento, apresentada por Paulo Gabriel Hilú da Rocha Pinto, professor da UFF e pesquisador do departamento de Antropologia do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, foi discutida a trajetória dos estudos sobre África e oriente Médio pelas ciências sociais no Brasil.
Segundo o professor, somente hoje esse campo de pesquisa vem sendo melhor explorado, devido ao lugar importante que essas regiões ocupam na política atual do país que desde 2004 as utiliza como meio de inserção no panorama mundial. Como exemplo desta aproximação, Paulo Gabriel citou a formação da Cúpula América do Sul – Países Árabes em 2005. A iniciativa de Luiz Inácio Lula da Silva deu origem ao primeiro encontro internacional de grande porte, na história recente, que buscou aproximar dois grandes e importantes blocos de países em desenvolvimento. Além deste evento, há ainda a criação do G3, grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul, criado pelo governo Lula, em 2003.
Paulo Gabriel defendeu que o estudo antropológico e cultural desses países é fundamental para o posicionamento do Brasil no cenário político mundial. O pesquisador apontou que as ciências sociais no Brasil vêm sofrendo grandes mudanças, pois até a década de 1990 elas possuiam uma postura auto-centrada e sem interesse por outras culturas e realidades que não a brasileira.
Segundo ele, isto se deveria, em parte, ao fato de que desde 1930 as ciências sociais no país teriam se comprometido com a construção do Estado-nação brasileiro e por isso as relações internacionais também ocupavam um lugar marginal. “Isso cria a força das ciências sociais brasileiras que são produzidas pela sociedade que é seu próprio objeto de estudo. Mas por outro lado a obsessão pelo Estado-nação cria fraquezas.”
Para o pesquisador, dentre as franquezas que esta postura implicou está a baixa produção de teorias sobre um objeto, o que ocasionou a importação de modelos teóricos. “Não havia massa crítica para discutir outras culturas, muito menos pesquisas empíricas sobre elas ou publicações em monografias” disse Paulo Gabriel ressaltando que, nesta época, para um indivíduo se afirmar no campo das ciências sociais era preciso que falasse do Brasil. Este panorama, disse o professor, mudou quando o Oriente Médio ganhou força econômica e ameaçou o Brasil que se julgava o país do futuro. Neste momento o Brasil passa a estudar outras realidades.
Paulo Gabriel criticou o sistema atual de pesquisa fora do país, segundo ele, mesmo que haja um “eficiente sistema de internacionalização acadêmica, não existe, no Brasil, financiamento para pesquisa em outros países.”
— Esta é uma questão que terá que ser repensada para que o Brasil possa produzir conhecimento sobre ouros países e se inserir de vez no panorama de discussão mundial — disse o pesquisador. Paulo Gabriel informou que ainda hoje existem poucos centros de estudos sobre África e Oriente Médio, sendo os mais relevantes o Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP), ligado ao Departamento de Literatura, e o novo Centro de Estudos Árabes da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, o único que promove um intercâmbio acadêmico com a universidade de Damasco, na Síria.