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Futuros alojamentos em debate

 Perto de 60 mil estudantes de graduação e pós-graduação deverão circular pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), segundo estimativas para 2020. Gente de outros estados, países e continentes poderá ser mais bem acolhida caso o plano de desenvolvimento da Cidade Universitária consiga implantar novas unidades residencias. Segundo um dos diretores da comissão de implantação do Plano Diretor 2020, Carlos Vainer, a idéia é oferecer seis mil moradias, que não serão construídas em áreas isoladas, mas integradas às faculdades. Além disso, discute-se que uma parte das habitações seja gratuita aos estudantes sem recursos financeiros e outra paga apenas para a manutenção dos imóveis.

A proposta parece um sonho que apresenta vantagens e desvantagens, segundo Veraluce Aguiar Esteves, atual diretora do Alojamento de Estudantes da UFRJ. Há 22 anos trabalhando no local, sendo 16 deles na administração direta, ela é uma espécie de juíza diária das questões que envolvem quem vive por lá. “Passo mais tempo aqui do quem em casa, para onde vou só nos fins de semana. É uma grande família, que por incrível que possa parecer tem como tema principal de desavenças a organização e limpeza dos quartos, algo que se resolve com uma simples transferência de quartos”, diz.

Para Vera, como é mais conhecida, o que vem sendo divulgado faz o projeto parecer um sonho, que traria como vantagem para os estudantes a redução dos custos com transporte, alimentação e até um ganho de lazer, tanto cultural quanto esportivo. No entanto, ela é radicalmente contra a idéia de se cobrar dos estudantes, mesmo aqueles da pós-graduação, qualquer quantia. “Não se deveria pagar nada. A bolsa não é para a pessoa se sustentar, mas para a aquisição de livros e manutenção do mestrado. Dos estudantes de graduação, então nem pensar. Pode se cogitar a cobrança de uma taxa ou outra pelo uso de máquina de lavar, por exemplo, como acontece em outros países”, afirma com a segurança de quem convive com a realidade dos estudantes.

Segundo ela, hoje, o perfil de quem vive no alojamento é de um estudante com muita limitação financeira. “Apenas se mudasse completamente a cultura da própria universidade, que é paternalista. Novos moradores teriam de surgir”, argumenta Vera, que não vê o isolamento do alojamento como um fato negativo. “Aqui, você tem um prédio recuado, mas há tranqüilidade e paz para se estudar e repor as energias. Não sei se já estou habituada ao silêncio daqui, mas será que construir um prédio tão próximo ao centro haverá sossego? “, questiona Veraluce.  

Para o estudante de Letras, André Lima, a idéia de ter moradias integradas aos centros de conhecimento corre o risco de acabar com a interação entre os alunos. “Parece o mesmo processo do período ditatorial que separou a universidade em vários pólos. Ao construir os alojamento por cursos acaba o contato que hoje você tem com o aluno de Física, de História, de Medicina, de Engenharia, de Química e tantos outros. Há sempre uma troca de conhecimentos que pode se perder. Viver do alojamento para a faculdade e da faculdade para o alojamento vai fazer o estudante ficar isolado do mundo, sem contato com ninguém mais que não pertence ao seu dia-a-dia”, afirma Lima ressalvando que, se a pessoa não tiver um momento para ter essa interação corre o risco de enlouquecer. “O ser humano é um ser social, ele precisa dessa troca”.

Outro aluno do curso de Letras, Thiago Bahia, que está há um mês vivendo no alojamento, desconhece, como a maioria dos estudantes, as propostas do alojamento previstas no Plano Diretor. “Acho uma utopia o pouco que já ouvi sobre o assunto. Aqui é o Brasil. Viver na universidade já é uma vantagem, mas ficar próximo da faculdade pode ser ainda melhor. Mas sou contra qualquer idéia de cobrança”, diz.