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Debate sobre cultura e alimentação reúne pesquisadores na UFRJ

A UFRJ recebeu, nos últimos dias 4 e 5 de novembro, o antropólogo Jesus Contreras, da Universidade de Barcelona. A visita faz parte da agenda da Rede Interinstitucional de Pesquisa em Alimentação e Cultura (Rede A&C), criada em 2007 por pesquisadores da UFRJ, Fiocruz, UFBA, UFRGS e USP-Ribeirão Preto. O encontro formaliza a colaboração internacional de Contreras ao grupo de estudos, que também mantém contato com cientistas da França, México e de outras partes do mundo, entre sociólogos, nutricionistas, antropólogos e historiadores.

Gilza Sandre-Pereira, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC) e uma das responsáveis pela Rede na UFRJ, conta que, apesar de o grupo ter sido criado oficialmente em 2007, a idéia de estudar a presença da alimentação na cultura (e vice-versa) já existe há mais tempo. “Em 2005, as professores Denise Oliveira e Silva, da Fiocruz em Brasília, e Maria do Carmo Freitas, da UFBA, inspiraram a criação desse grupo”, relata a professora.

Contreras, que já tem interesse pelo tema há cerca de 20 anos, vê na Rede uma oportunidade de responder a algumas questões que só podem ser esclarecidas a partir do diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. “O nutricionista é preparado para saber o que as pessoas comem e recomendar o que devem comer. O interesse do antropólogo, porém, é o de descobrir porque as pessoas comem tal alimento. Essas duas visões se complementam”, comentou o professor.

O antropólogo elogiou a postura dos nutricionistas brasileiros, que, segundo ele, têm uma visão mais aberta a respeito de dialogar com outros campos do conhecimento. “Percebo nos pesquisadores de nutrição do Brasil uma receptividade muito maior em relação a idéias novas e a relação entre áreas diferentes da nutrição em si”, destacou.

De acordo com Gilza Sandre-Pereira, a perspectiva de pesquisa e colaboração entre as Instituições participantes é concreta. Uma das propostas é de criar, no Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Instituto de Nutrição Josué de Castro, uma linha de pesquisa em Alimentação e Cultura. Dessa forma, cada aluno/pesquisador poderia investigar um viés do tema, tanto dentro da própria UFRJ, quanto por meio de programas de intercâmbio entre as universidades integrantes da Rede.

Para Contreras, esse tipo de análise integrada é fundamental, tanto para a antropologia quanto para a nutrição. De acordo com ele, “alimentação e cultura sempre se relacionaram e sempre se relacionarão”. O professor acredita que entender a alimentação de uma sociedade permite compreender seus hábitos, política e economia. “Somos, portanto, o que comemos”, lembrou o professor, fazendo referência a Hipócrates, o pai da Medicina.

Globalização, identidade e alimentação

Tema da conferência do dia 4, organizada pelas professoras Gilza Sandre-Pereira e Miriam Ribeiro Baião, um dos pontos destacados pelo pesquisador é a maneira como a alimentação influencia a identidade. Para ele, o processo de globalização vivido cada vez mais intensamente nas últimas décadas é importante fator na determinação de uma “identidade alimentar”. “Acredito que poderíamos falar de um renascimento de uma identidade alimentar. Muitos vêem a homogeneização provocada pela globalização como uma perda, mas, se não fosse pelo processo de globalização tão forte, não assistiríamos a estes movimentos de recuperação ou manutenção de produtos tradicionais e com identidade alimentar”, disse.

A proliferação de produtos de origem protegidas, principalmente na Europa, reforça a tese de Contreras. O antropólogo, que vive na Espanha, tem a oportunidade de observar de perto o processo. “Na Europa, vejo se multiplicarem as cozinhas típicas. Inventam-se pratos tradicionais. É um intento de ter algo próprio, algo que não se tem em nenhuma parte do mundo. Nesse aspecto se, por um lado, a alimentação se industrializa e se homogeneíza, por outro, também se patrimonializa”, explicou Contreras.

Simpósio

Depois de realizar a conferência do dia 4 e ministrar, no dia 5, aula no Curso de Aperfeiçoamento em Antropologia, Alimentação e Saúde, oferecido pela Rede A&C, numa parceria entre UFRJ e Fiocruz, Jesus Contreras parte para Salvador, para participar do II Simpósio Internacional de Alimentação e Cultura, nos dias 12 e 13 de novembro.

Destaque para a conferência de abertura “Saúde, alimentação e cultura: dilemas e desafios do tema para o século XXI”, ministrada pelo pesquisador francês Claude Fischler. Saiba mais sobre o evento e a Rede A&C em www.ensp.fiocruz.br/redeac.