O tema Entrevista, Escuta e Registro foi debatido na última sexta, dia 24, na mesa-redonda do I Fórum de Comunicação e Saúde. A primeira edição do evento trouxe ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ os médicos Sérgio Zaidhaft, José Carlos Lelis e Hylton Luz, além da socióloga Madel Luz, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
As maiores críticas à medicina tradicional se relacionam com o modo de diagnosticar as doenças: ao médico interessa que o paciente faça o relato objetivo dos sintomas, descartando informações relativas a problemas pessoais do paciente, por exemplo. O psicanalista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ Sérgio Zaidhaft defende o encontro entre psicanálise e medicina para que o profissional esteja atento também a detalhes subjetivos da fala do paciente.
“A medicina tem como objeto principal a lesão, a doença, diagnosticada a partir do olhar interessado no corpo, independentemente das subjetividades que a pessoa apresenta. O médico tem que entender que o paciente não é só um corpo”, afirma ele, acrescentando que a saída é a psicologia médica, a bioética, a arte como estímulo à subjetividade do profissional e seu envolvimento equilibrado na consulta.
Segundo Zaidhaft, o tempo médio de fala de pessoas atendidas não ultrapassa 18 segundos em razão da interrupção do clínico. O médico entende que a entrevista no consultório deve se assemelhar a uma investigação jornalística, cabendo ao “entrevistador” fazer provocações e análises. Hylton Luz, médico e presidente da ONG Homeopatia pelo Semelhante, compartilha a visão de que o profissional deve buscar todas as informações com o paciente para um melhor diagnóstico.
– O paciente quer a resolução do problema. O médico tem que perguntar para descobrir, pedir explicações sobre o que ele sente para uma melhor definição não restrita à ficha de anamnese com perguntas protocoladas -, diz Hylton Luz.
O paciente chega ao consultório, olha para o médico e diz: "Doutor, estou aqui porque sinto um vexame". O exemplo foi dado por Luís Carlos Lelis, que vivenciou esse caso, relatando-o com a entonação do paciente nordestino. Apesar de tentar decifrar o sentido da palavra com as perguntas "É dor? Queima?", ele só ouviu as respostas: "Não é azia e nem sinto dor, doutor. É só um vexame, só". Professor de Medicina da Universidade Gama Filho, Lelis explica que aceitar as diversidades culturais é essencial para a humanização da medicina.
Alguns integrantes da mesa-redonda apontaram a homeopatia como meio para humanização dessa prática. “A homeopatia inclui o sujeito na consulta, porque o médico não se aparta do que ele fala. O homeopata tem bem definida a concepção de sujeito, pois identifica a relação entre corpo, sensação e funcionamento”, afirma Hylton Luz. Madel Luz acrescenta que homeopatas estão atentos à questão do mal estar social e do sofrer. A socióloga indica também a Ayurveda e a medicina chinesa como formas de tratamento alternativas que se contrapõem à escuta: “elas não são medicinas da escuta, sobretudo se preocupam em intervir na melhora, no bem-estar do paciente”.
Na próxima sexta, dia 31, às 16h, a última mesa-redonda contará com a presença da antropóloga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Kátia Lerner, na conferência sobre a Antropologia da Escuta. Também será exibido “Santo Forte”, seguido de um debate com o diretor do filme, Eduardo Coutinho, a jornalista e professora da Escola de Comunicação da UFRJ Consuelo Lins e a diretora teatral Bia Lessa. O encontro acontece no Fórum de Ciência e Cultura, no campus da Praia Vermelha. Ricardo Lessa coordena o evento a convite de Elizabeth Castro, idealizadora do Projeto “Ciência e Cultura” do fórum.