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A Arte Contemporânea de Suzana Queiroga

A relação entre o virtual e o real, a interatividade das obras com o espectador, os limites da visão e dos sentidos, e demais questionamentos possibilitados pela compreensão da arte, foram assuntos levantados a partir das obras de Suzana Queiroga. A artista plástica esteve nesta sexta-feira, dia 3, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, a convite do Núcleo de Tecnologia da Imagem (N-Imagem) para mais uma palestra do ciclo "O que é Arte Contemporânea?".

Suzana Queiroga é autora da obra Velatura, parte integrante da peça Estação Terminal, em cartaz no Fórum de Ciência e Cultura, que remonta os relatos dos diários do escritor Lima Barreto no período de internação no hospício. A obra permite aos espectadores a interação com a peça teatral, ao entrarem na espécie de bolha, sendo-lhes permitido conhecer as sensações claustrofóbicas de um louco. Suzana possui outras obras semelhantes com o uso do mesmo material. "É como um amolecimento do real. Mergulhei muito no inflável, pois ele é para mim, ao mesmo tempo, uma experiência de pintura, escultura, instalação e, ainda, trabalho cênico", diz a artista.

Se a artista faz a associação de pintura quando fala de objetos infláveis, ela se refere à quebra da rigidez da pintura. Suzana, assim como outros artistas contemporâneos, toma a liberdade de romper parâmetros artísticos: "É como uma pintura tridimensionalizada. Tem um eixo com a cor, transparência e o espectador. É uma arquitetura do corpo penetrável numa transitoriedade da pintura". O que ainda está bastante ligado à idéia de fluxo: "Queria encontrar outro caminho para a pintura. O fluxo da pincelada como deslocamento. Pretendo carregar com o pincel um caminhar".

Interessante também observar quadros nos quais Suzana estabelece uma relação entre a cartografia, numa analogia do corpo com as cidades. Mapas aparecem retrabalhados com cores orgânicas, muitas vezes lembrando redes sanguíneas. Ela afirma: "A leitura urbana é identificada nos traçados urbanísticos que permitem uma confluência de tempos históricos. Trabalhei muito com mapas, e parecia que as linhas começavam a se encontrar umas com as outras. O que eu faço é como um exercício de sobrevôo mental pelas cidades, para pensá-las como grandes desenhos". Mas como foi apresentado na palestra, o sobrevôo não se dá somente no imaginário. Suzana também criou um balão, hoje em exposição em Brasília, cidade que por sua forma integra simbolicamente a obra da artista. O balão agrega em sua superfície uma grande pintura de um mapa de uma cidade, "que possui como suporte o próprio espaço aéreo. A experiência do vôo é estar entre duas cidades", diz ela a respeito do jogo entre a representação e o real.

Em outra linha de manifestação artística, algumas obras de Suzana são comparadas a de Anish Kapour, artista plástico indiano que teve suas obras expostas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em 2006, principalmente pela obra que se chamava Pregnancy. Na exposição, éramos surpreendidos por uma parede branca com uma aparente mancha frontal. Mas bastavam alguns passos para percebermos que ali havia um relevo que lembrava uma barriga de uma grávida. Paredes brancas com relevos que só são percebidos depois do deslocamento do próprio espectador também são as obras marcantes de Suzana. O espectador, nesse caso, participa mais ativamente ao experimentar visões distintas de um mesmo objeto. O deslocar-se do observador constrói o objeto, confirmando a fala de Suzana: "a matéria é só uma ilusão, pois põe o espectador em dúvida". A confusão também é o objetivo: "Não quero definir. É o princípio da incerteza e tomo a incerteza como princípio". Para nós espectadores fica a conclusão de que quando a arte contemporânea passar a afirmar mais do que pôr em dúvida nossas percepções, será o momento para se pensar em uma nova classificação da arte