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Crise climática em debate

 A crise climática voltou a ser tema de debate na UFRJ. Nesta quarta, dia 29, o Instituto de Economia (IE), em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ), promoveu o “I Seminário sobre vulnerabilidade e adaptação pública e empresarial frente às questões ambientais e sociais contemporâneas”, no Salão Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura, no campus da Praia Vermelha.

O evento, que também acontece hoje (30), tem como objetivo debater as formas pelas quais questões ambientais e sociais podem afetar o planejamento estratégico de governos e empresas. “Esse seminário é fruto de um sonho de integração entre as ciências, que visa à construção de um mundo melhor. Precisamos conversar sobre os problemas atuais e resolvê-los, pois eles terão influência direta sobre as gerações futuras”, comentou Eurídice Mamede, professora da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC) da UFRJ, durante a abertura do encontro.

Outro professor que destacou a importância do tema foi Marcos Freitas, coordenador do Instituto Virtual de Mudanças Globais da COPPE: “Essa iniciativa tem que ser reconhecida. As soluções ou adaptações para o aquecimento global precisam ser pensadas, já que muitas vezes paramos na discussão que opõe o crescimento econômico à preservação ambiental, ou seja, nós contra nós mesmos”. Ary Vieira Barradas, vice-diretor do IE, também ressaltou a urgência de se reorganizar o capitalismo: “O mundo passa por uma forte fase de vulnerabilidade. O capitalismo e as tecnologias precisam ser refundados, em meio à crise ambiental global”.

Para Emílio Lebre La Rovere, coordenador do Laboratório Interdisciplinar do Meio Ambiente (LIMA/COPPE), é preciso congregar visões para elaborar perspectivas interdisciplinares. “Temos que nos mobilizar. Se não fizermos isso, as questões do meio ambiente ficarão em segundo plano, devido à crise econômica sem precedentes que estamos vivenciando. A crise passará, mas os problemas ambientais serão de longo prazo. Eles constituirão a realidade do século XXI”, afirmou.

O professor apresentou as possíveis mudanças climáticas que o mundo pode vir a sofrer no futuro, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O aumento da temperatura média do planeta (de 2o a 4,5o C até o final do século), a desertificação das florestas, a acidificação dos oceanos, as mudanças nas correntes marinhas e o derretimento das calotas polares e geleiras são algumas das catástrofes previstas pelo relatório internacional. Além destas, podem ocorrer outras mudanças que não são mensuráveis: “Algumas causarão prejuízos incalculáveis. Basta observarmos a possibilidade da ocorrência de um resfriamento da Europa”, disse Emílio.

Ainda segundo o professor, a mitigação da crise, ou seja, a correção das causas do efeito de agravamento do clima, passa necessariamente pela estabilização e redução da emissão de gases oriundos da queima de combustíveis fósseis. “Se os ideais do Tratado de Kyoto não forem respeitados, a emissão continuará alta. Logo, o quadro não sofrerá mudanças. Quem mais sofrerá com isso serão os países do Hemisfério Sul, devido a sua vulnerabilidade social. Sabemos que esse processo levará décadas, mas ele precisa ser iniciado desde já“, afirmou Emílio, que já participou do quadro de pesquisadores do IPCC. Outras medidas importantes incluem, segundo ele, a promoção de políticas públicas efetivas para a questão ambiental, como a preservação sustentável, o investimento em fontes de energias renováveis e a determinação de uma política de preços sobre a tonelada de carbono produzida.

Para comentar a relação da Justiça com a conservação do meio ambiente, a COPPE/UFRJ convidou Rosani Gomes, promotora de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Ela acredita que, muitas vezes, lutar na Justiça é o único caminho para cobrar de indivíduos, empresas ou do Poder Público o respeito às leis ambientais. A promotora também explicou algumas das funções institucionais do Ministério Público, como a abertura de ação penal pública e o inquérito civil.

– A área jurídica está casada com a área técnica. O sucesso depende da relação com biólogos, engenheiros, cientistas e tantos outros. Com esse apoio, a ação judicial é mais eficiente – afirmou Rosani. Outra medida importante para a defesa da questão do meio ambiente foi a criação da Promotoria de Defesa dos Interesses Difusos e Direitos Coletivos, que garantiu a segurança dos promotores. Muitas vezes, por investigar grandes empresas ou o Poder Público, eles sofriam fortes ameaças.

Apesar dos avanços, o Ministério Público ainda enfrenta dificuldades, como a correção de ocupações irregulares em locais de relevância ambiental, a inexistência de uma vara especializada nesta área e a ausência de responsabilidade do Poder Público. “No caso da Lagoa Rodrigo de Freitas, nem a Prefeitura nem a CEDAE assumiam a responsabilidade”, contou Rosani. 

Ao final do encontro, a comissão apresentou algumas perguntas elaboradas pelos convidados do evento. Temas como o fato de cientistas não acreditarem na influência do homem na crise ambiental, a participação do investimento privado na preservação da natureza e as perspectivas para a 2ª Rodada do Protocolo de Kyoto, que acontece no ano que vem, na Dinamarca, foram comentados pelos palestrantes. Além disso, a promotora respondeu questões ligadas à despoluição da Baía de Guanabara e à efetividade das ações judiciais.