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Papel social e desafios do ensino de economia da UFRJ

 O Instituto de Economia (IE) da UFRJ comemora hoje (17/10) 70 anos de ensino universitário de economia no país com um seminário que teve inicio esta manhã e contou com a participação do reitor, Aloísio Teixeira, do decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), Alcino Câmara, do diretor do instituto, João Sabóia, e dos diretores de graduação e pós, Marcelo Paixão e David Kupfer, respectivamente. Na mesa de abertura foram apontados e discutidos alguns desafios futuros da instituição, bem como a sua importância e papel social.

— A UFRJ pode se orgulhar de ser a universidade pioneira no ensino de economia — disse Marcelo Paixão ressaltando que o ensino de economia no país, iniciado em 1938 na então Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil começa justamente no momento em que se constrói no país um projeto de estado nação que busca transformá-la em desenvolvida através do investimento na indústria.

— Nosso curso não é um curso autista, não trabalha com um conhecimento desnecessário, ele nasceu em um momento em que a nação precisava dele — disse Paixão apontando que a atual e estrutura curricular do curso de economia política, muitas vezes criticada por ser excessivamente teórica, é necessária para que se promova uma interferência na realidade social do país, como aconteceu no período do surgimento do ensino universitário da disciplina. “Faz parte da UFRJ a preocupação com as grandes mazelas sociais” completou o professor que acredita na necessidade da reflexão teórica para que se possa contribuir para o bem-estar social.

Em contraponto à visão de Paixão de que a UFRJ exerce um compromisso humanista com a sociedade, o decano Alcino Câmara defendeu que, na prática, a universidade ainda não cumpre esse papel. “Eu queria que efetivamente nós estivéssemos ligados às questões sociais e imersos nas questões da cidadania, mas acho que não estamos tanto”. Segundo Câmara, o fato de os economistas estarem ligados a uma demanda profissional os afasta do contato com as preocupações do conforto social.

David Kupfer apontou como um avanço na história do IE a criação da pós-graduação, que completa 30 anos em 2009, e anunciou a criação do mestrado e doutorado em Economia e Política Internacional, um projeto multidisciplinar, em parceria com o Núcleo de Estudos Internacionais da UFRJ, que completa a fase de expansão que IE vive atualmente. O novo programa foi aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior  (Capes) com nota 5 e abrirá suas primeiras turmas em março do ano que vem.

Sem deixar de lado o passado do IE, João Sabóia relembrou grandes nomes e colegas economistas falecidos, como a ex-diretora do instituto, Ana Luiza Osório e Maria Bárbara Levy, economista e historiadora. Apontou como marcos do desenvolvimento do IE, o grande número de disciplinas eletivas que enriquecem o currículo, a obrigatoriedade da monografia de final de curso que rende ao instituto muitas premiações e a pesquisa acadêmica que não existia até 1979 quando foi implantada a pós-graduação.

Como desafios futuros, Sabóia apontou as mudanças decorrentes da reforma universitária prevista para a UFRJ. O ciclo básico horizontal, segundo ele é uma boa iniciativa, mas que requer reflexão e traz consigo preocupações devido à complexidade da questão. Outro desfio seriam os cursos multidisciplinares, que requerem a participação de muitas unidades e uma boa administração, e por fim a mudança de campus do IE da Praia Vermelha para o Fundão. “A gente entende o projeto, mas o fato concreto é que estamos aqui há décadas e temos uma história neste lugar” disse o professor.

Finalizando a discussão, o reitor disse que em um balanço geral o IE tem tido um papel muito positivo e apontou como exemplo disto o fato do instituto estar inserido nos debates políticos nacionais através dos diversos políticos que nele se formaram e da constante participação de seus alunos e professores no governo. Diferente de Sabóia, Aloísio Teixeira destacou como desafio um problema mais geral: a mudança de olhar sobre a educação superior no país. “Se a educação superior passa a ser um direito de cidadania, tal como o ensino fundamental, a universidade tem que oferecer ensino superior a todos os jovens.”

— A universidade não pode ser apenas uma federação de escolas de formação profissional, pois nem todas as profissões do mundo requerem essa formação — disse o reitor que vê neste ponto outro desafio que seria vencido com novos tipos de formação superior. Segundo ele, a visão positivista de mundo que classifica a ciência em categorias estanques não tem mais espaço hoje e deve ser substituída por uma visão além do multidisciplinar, pela qual os objetos de conhecimento transitem em diferentes áreas. “É uma questão nova da organização do ensino superior que deve ser pensada no horizonte de mais 70 anos de ensino e não no horizonte de nossas vidas individuais.”