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Memória

Escola de Serviço Social homenageia a professora Suely de Almeida

 A Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ prestou uma homenagem à recentemente falecida professora Suely Souza de Almeida na manhã dessa quarta-feira (15/10), dia do mestre. Na ocasião foi descerrada uma placa em sua memória e realizada uma mesa-redonda, Relações de Gênero, Violência e Políticas Públicas, na qual sua trajetória acadêmica foi relembrada através das falas de Lilia Guimarães Pougy, professora da Escola e supervisora na formação da equipe técnica do Centro de Referência de Mulheres da Maré; Cecília Soares, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim); Dayse de Paula Marques da Silva, coordenadora do Programa de Estudos sobre gênero e etnia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Marisa Chaves, membro da Comissão Especial de Segurança da Mulher do RJ e co-autora do livro Bases para a Formulação de Políticas Públicas, escrito em parceria com Suely.

Suely de Almeida foi uma importante ativista na defesa dos direitos da mulher e lutava contra a violência de gênero através do desenvolvimento de trabalhos teóricos sobre o tema, da formulação de políticas públicas e ações práticas. A professora, falecida no último dia 9 de agosto, iniciou sua carreira na UFRJ em 1988, como chefe do departamento de Métodos e Técnicas da ESS, e ocupou diversos cargos de destaque na Universidade, como o de decana do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), no período de 2002 a 2006, e de diretora da ESS, de 1998 a 2002.

Recentemente, dirigia o Núcleo de Estudos de Políticas em Direitos Humanos (NEP-DH), órgão suplementar do CFCH que desenvolve entre outros programas o Observatório da Laicidade do Estado (OLE), o Grupo de Pesquisa sobre Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC) e o Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM), elaborado por ela, em conjunto com as professoras Eliana Amorim Moura e Luciane Quintanilha Falcão, em 2004.

A solenidade em homenagem à professora, realizada propositalmente no dia do mestre, foi aberta pelo decano do CFCH, Marcelo Corrêa e Castro, que agradeceu a presença dos familiares da homenageada definida por ele como “um exemplo raro de caráter, postura e formação, pessoa que reunia todos os aspectos de um bom professor”.

A preocupação social das propostas de Suely foi destacada por Mariléia Porfílio que assumiu seu lugar na direção do NEP-DH: “Suely galgava passos não na sua carreira individual, mas no coletivo. Colocava sua capacidade intelectual a serviço do social”.

— Raridade enquanto docente, moralmente responsável pela formação de jovens e comprometida com uma área de difícil atuação, que é a violência de gênero, Suely tinha uma preocupação humana com esse campo temático — disse Dayse da Silva apontando o total envolvimento de Suely com sua área de pesquisa.

Durante toda a sua trajetória de vida, Suely esteve diretamente envolvida na área de violência de gênero, seja junto às delegacias da mulher, onde desenvolveu muitas pesquisas, ou criando projetos e acordos políticos de combate a esta situação. Em 2004, elaborou um acordo de cooperação entre a UFRJ e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Nesse período manteve contato com a ministra responsável, Nilcéa Freire, com quem esteve junto em diversas ocasiões, como na inauguração das instalações do Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa (CRMM-CR) em 2007. Desta aproximação surgiu a admiração da ministra por Suely. Por isso Cecília Soares leu na mesa-redonda um pronunciamento em memória à professora a pedido de Nilcéa Freire.

Suely via a violência de gênero com um atentado aos direitos humanos e buscava, por meio do debate da questão e da interdisciplinaridade, criar propostas para a falta de políticas públicas na área. Com este intuito escreveu o livro Violência de gêneros e políticas públicas que pretendia esclarecer muitos aspectos da questão de modo didático. “Suely nos ensinou que temos que tratar o eixo gênero, classe social, etnia e diversidade sexual como estruturantes da violência de gênero e não transversais” disse Marisa Chaves destacando o olhar da professora homenageada.

— Suely era mestra na arte de congregar e construir consensos, construir condições para que a pluralidade fosse montada na intercessão entre diferentes — disse a colega de trabalho e amiga Lilia Pougy que apontou o “excelente” trabalho de Suely ao assumir uma decania desestruturada e transformá-la em uma unidade coerente e produtiva.

Durante todo o evento, foram destacadas as qualidades pessoais da professora, bem como seu legado acadêmico. Extenso legado que conta com mais de 100 publicações nas áreas de violência de gênero e políticas públicas, quase 20 cursos ministrados e cerca de 127 trabalhos apresentados em congressos, seminários e conferências. “Suely fez a sua parte, nós vamos continuar a fazer a nossa” disse Cecília Soares com esperança de que este trabalho tenha continuidade.